Título
Corpas em trama, trânsito e truque: Fricções a(r)tivistas e interseccionais na coletiva A Revolta da Lâmpada
Autor
Gustrava, Gustavo
Resumo
pt
Em 2014, em São Paulo, eu co-fundei uma coletiva – assim, no feminino – a(r)tivista e interseccional
chamada A Revolta da Lâmpada. Nosso lance era juntar uma multidão de corpos rejeitados,
minorizados, despossuídos e estigmatizados para sair às ruas, em uma mistura de protesto e cortejo.
Havia duas apostas: 1) construir uma aliança ativista entre corporeidades oprimidas diversas, que
vinham de diferentes identidades (queer e/ou feminista e/ou negra e/ou periférica e/ou HIV+ e/ou
body positive, entre outros marcadores), 2) acreditar na arte e na festa como os elos de conexão que
possibilitariam tal coalizão.
As apostas revelaram duas encruzilhadas: 1) entre pertencimento e alteridade, 2) entre o (suposto)
campo sensível da arte e o (suposto) campo pragmático do ativismo. Ao longo de toda a trajetória da
coletiva, estes entrelugares iniciais foram disparadores de vários outros, criando fricções, tramas,
trânsitos, truques e tretas. Meu objetivo ao trazer a experiência da A Revolta da Lâmpada para um
formato etnográfico, portanto, também é um truque de encruzilhada: usar lentes acadêmicas para
enxergar outros contornos em práticas e apostas extra-acadêmicas, e vice-versa. Faço isso a partir da
minha própria fricção autoetnográfica como pesquisador e “objeto” (odeio essa palavra) de pesquisa
simultaneamente. Menos em uma tentativa de encontrar respostas cristalizantes para as apostas da
coletiva, e mais para investigar como A Revolta da Lâmpada navegou, sob quais barcos, se com mais
ou menos destreza, pelos rios de dúvidas cristalinas que correm entre as rochas dualistas que cercam
sua trajetória.
en
In 2014, in São Paulo, I co-founded an a(r)tivist and intersectional collective called A Revolta da
Lâmpada. Our thing was to bring together a crowd of rejected, violated, dispossessed, and stigmatized
bodies to take to the streets in a mix of protest and party. We had two bets: 1) to build an alliance
between diverse oppressed communities, which came from different identities (queer and/or feminist
and/or black and/or displaced and/or living with HIV and/or body positive, among other markers), 2)
to believe in art and partying as the knots that would make this coalition possible.
These bets revealed two unstable positions: 1) between belonging and otherness, 2) between the
(alleged) sensitive field of art and the (alleged) pragmatic field of activism. Throughout the collective’s
existence, these two initial crossroads have triggered several others, creating frictions, intertwinings,
transits, tricks. My aim in bringing A Revolta da Lâmpada’s experience into ethnographic research,
therefore, is also a crossroad trick: I want to use academic lenses to possibly discover other outlines in
extra-academic practices, and vice-versa. I do this from my own autoethnographic friction as
simultaneously researcher and "object" (hate this word) of research. This is less an attempt to find
crystallizing answers about the collective, and more an investigation of how A Revolta da Lâmpada has
sailed, using which boats, if with more or less skill, through the crystalline rivers of doubts that flow
between the binary rocks that have always surrounded its trajectory.