Título
Um mundo em movimento: Horizontes operativos entre refugiados e regressados angolanos (Campo de Meheba, Zâmbia)
Autor
Neto, Pedro Miguel Mendes Pereira Figueiredo
Resumo
pt
O deslocamento populacional — forçado, induzido ou voluntário — encontra-se arraigado nos
territórios que hoje compõem Angola e respectivas franjas. A escravatura, o trabalho forçado, a
violência e os pesados impostos, o processo de ocupação territorial, as políticas coloniais e
outras mais recentes, mas sobretudo os continuados conflitos inter-relacionados, estiveram na
base de profundas transformações demográficas. Ao longo do tempo, a incerteza estrutural
contribuiu para que o movimento — enquanto constrangimento e estratégia — se consolidasse
como condição central na vida das populações locais.
Através de métodos etnográficos adaptados ao contexto do terreno, procurei compreender
como se articula o movimento de “refugiados” e “repatriados angolanos”. Nesse sentido, e
partindo do campo de refugiados de Meheba, Zâmbia, acompanhei directa e indirectamente os
respectivos percursos entre a Zâmbia e Angola. O resultado foi a elaboração de um regime de
pensamento e de acção, organizado através das unidades socioespaciais envolvidas — a
saber, “o campo” (de refugiados), “o mato”, “a cidade”, “a estrada” e “a fronteira”. Tais unidades
socioespaciais, cuja substância é produto — e produtora — de eventos, ideias e ideais de
(i)mobilidade, constituem o que eu chamo de “horizontes operativos”. Assim, trata-se de
compreender o que ocorre nestas unidades socioespaciais, que significados encerram, qual o
seu carácter, que identidades form(ul)am, que comportamentos e expectativas (pre-)supõem, e
como estimulam e são estimulados pela (i)mobilidade nas suas várias expressões.
en
Forced, induced and/or voluntary, displacement lies deeply rooted in the territories that today
comprise Angola and its fringes. Colonial occupation and slavery, violence, forced labour and
high taxes, the nationalist strife, but above all, the successive interrelated conflicts, have had
tremendous demographic implications. Over time, structural uncertainty contributed to the way
movement — understood as a constraint and as a strategy — became integrated in the regional
social landscape.
The Meheba Refugee Settlement, Zambia, was the departure point of a sprawling ethnography.
By following the paths of Angolan refugees and returnees between Zambia and Angola, I sought
to understand how movement is articulated and perceived. More than an element of analysis,
mobility became a research resource; the elaboration of a régime de la pensée et d’action,
structured according to the socio-spatial units involved, was its outcome. These socio-spatial
units, whose substance is the product and producer of events, ideas and ideals of (im)mobility,
constitute what I call “operative horizons”. In the present essay, these are the (refugee) “camp”,
“the bush”, “the town”, “the road” and “the border”. Therefore, it is my aim to examine what takes
place in these units, the meanings these horizons have attached as well as their intrinsic nature,
the identities they shape and formulate, the behaviors and expectations they imply and foresee,
and how they stimulate and are stimulated by the various expressions of (im)mobility.