Título
Argumentos para uma viagem sem regresso: a imigração PALOP por via da saúde: um estudo de caso
Autor
Henriques, Maria Adelina Oliveira Graça
Resumo
pt
Este trabalho pretende chamar a atenção para a existência de um fluxo migratório muito
específico: a imigração oriunda dos PALOP por via da saúde. Chegam até Portugal
diariamente doentes evacuados ao abrigo dos Acordos de Cooperação no domínio da
saúde, que acabam por não voltar mais ao país de origem. Estes migrantes são muitas
vezes esquecidos e não têm sido objecto de investigação aprofundada.
O trabalho pretende alertar também para o facto dos Acordos de Saúde celebrados entre
Portugal e os PALOP estarem frequentemente desadequados da realidade actual, para
além de não serem muitas vezes cumpridos pelas partes. Por exemplo, em muitos casos
as embaixadas dos países de origem não apoiam os doentes em Portugal, quer em
termos de alimentação, quer de alojamento ou medicamentos.
As deficientes triagens no país de origem parecem conduzir a processos de selecção de
doentes pouco claros e ineficazes. Vir para Portugal para tratamento médico obriga por
vezes a verdadeiras batalhas: com a embaixada, com as finanças, com o Ministério da
Saúde. A posse de capitais social e económico revela-se um elemento chave no
desencadear e no desenrolar de todo o processo.
Apesar das grandes dificuldades com que estes doentes e familiares (sobre)vivem em
Portugal, muitos não querem regressar ao país de origem. A dificuldade em obter
tratamento médico e medicamentos são as razões mais apontadas para não regressar.
Em Portugal, porém, a vida não é fácil. O suporte económico, psicológico e cultural da
maioria dos doentes assenta nas redes familiares e de amigos. A solidariedade e ajuda
mútua entre os africanos é muito forte. Alguns dos que não têm família nem amigos em
Portugal vivem da caridade dos seus compatriotas.
en
This study concerns a specific migration flow: immigration from PALOP to Portugal
due to health reasons. Everyday many patients arrive to Portugal in the framework of
the Cooperation Agreements signed between Portugal and the PALOP. Many of these
patients do not return to their home country. These migrants are often forgotten and
have not been object, until today, of academic scrutiny.
This study wants to call the attention for the fact that the Health Agreements signed
between Portugal and the PALOP are frequently unadjusted and are not always
respected by the partners. For example, in many cases the embassies of sending
countries do not support their patients, either in terms of food support, housing or
medicines.
Ineffective processes of selection in the sending countries also lead to unclear and
deficient choices of patients. Travelling to Portugal to get medical treatment often leads
to long and exhausting battles with the embassies, fiscal authorities and the Health
Ministry. The possession of social and economic capital is a key variable to explain the
beginning and continuation of the process.
Despite the difficulties faced by these patients, and their relatives, in Portugal, many do
not want to return to their home country. The difficulty of getting medical treatment and
medicines are the reasons most often cited. However, in Portugal life is far from easy.
The economic, psychological and cultural support is mostly based in family and
friendship networks. Solidarity and mutual help among Africans seems to be strong.
Some of those who do not have family or friends in Portugal live of the charity of their
fellow countrymen.