Estudos sobre relações intergeracionais ancorados na teoria do curso de vida mostram que os valores e atitudes dos filhos estão fortemente associados aos dos seus pais. No entanto, alguma literatura aponta para a existência de uma relação bidirecional, isto é, que os jovens também influenciam os valores dos pais, ajudando-os a ajustarem-se à mudança social. Neste estudo encontrou-se evidência destas relações bidirecionais entre duas gerações de uma mesma família (pais e filhos) nas atitudes, valores e comportamentos face aos papéis de género. Foram realizadas 20 entrevistas biográficas semiestruturadas com cinco famílias de quatro elementos (um casal heterossexual e dois filhos comuns de diferentes sexos, por família). Estas entrevistas, transcritas na integra, foram submetidas a uma análise de conteúdo temática com recurso ao software de análise de conteúdo MAXQDA, seguindo uma estratégia de análise de conteúdo temática. Tinha-se como objetivo compreender de que forma os processos de reprodução e mudança social operam e moldam as atitudes, valores e comportamentos no seio das famílias e entre gerações. Concebendo o género como uma (re)construção contínua ao longo do tempo, assente no exercício da agência individual, pretendia-se ainda perceber de que forma transições de vida como a entrada no mercado de trabalho, em relações amorosas ou na parentalidade têm impacto nas atitudes, valores e comportamentos face aos papéis de género. Uma vez que os valores, atitudes e comportamentos são moldados pelo contexto social, económico e cultural vivenciado, encontraram-se diferenças geracionais resultantes da exposição a diferentes tempos históricos, bem como diferenças de género.

Research on intergenerational relations anchored on the life course theory points out the strong relation between beliefs, attitudes, and behaviour of parents and their children. However, some literature emphasizes the existence of a bidirectional process, whereby the young generations also influence their parents’ beliefs, attitudes, and behaviour, helping them adjust to social change. The present research found evidence of this bidirectional relation between two generations in the same family (parents and children) in their beliefs, attitudes, and behaviours regarding gender roles. 20 biographical semistructured interviews corresponding to five families of four (a heterosexual couple and two common children of different sex, per family) were conducted. These fully transcribed interviews were subjected to a thematic content analysis strategy using MAXQDA software. The aim of the study was to understand how social change and reproduction processes shape beliefs, attitudes, and practices inside families and between generations. Understanding gender as a continuous (re)construction that requires the exercise of personal agency, the goal was also to understand how life transitions such as the entry into the labour market, entering romantic partnerships, and becoming a parent potentially led to the maintenance or disruption of gender role attitudes. Bearing in mind that these beliefs, attitudes, and behaviours are a product of the social, economic, and cultural context experienced, generational differences were found as a result of experiencing different historical periods, as well as gender differences.