Título
Concepção, gestação, parto e maternagem: Representações sociais numa sociedade africana: Um estudo de caso das Filhas de Cacheu da Guiné-Bissau
Autor
Galvão, Lilian Santos
Resumo
pt
O presente estudo, inserido no âmbito do doutoramento em Estudos Africanos, visa compreender os desafios e as perspectivas da Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) na África Subsaariana, região global que apresenta as piores taxas mundiais de mortalidade materna, neonatal e infantil. O estudo ainda descreve e analisa as vivências e práticas sobre concepção, gestação, parto e cuidado materno-infantil, sob a ótica da diversidade cultural e das práticas tradicionais, e em interação com as intervenções externas dos projetos de saúde e cuidado materno-infantis, partindo do Estudo de Caso das Filhas de Cacheu, na Guiné-Bissau. Com ele, procurou-se identificar, através de pesquisa documental, bibliográfica, entrevistas, grupos focais e observação participante, a condição da saúde materna e infantil existente na República da Guiné-Bissau, conhecer ritos e as práticas tradicionais presentes nos processos de concepção, gestação, parto e cuidados com a pequena infância, analisando as interações entre saberes e práticas culturais, e as intervenções biomédicas. Compreendeu-se que a violência, incluindo a obstétrica, assujeita as mulheres, assim como a incapacidade de decidir por si mesmas sobre métodos contraceptivos, as vulnerabiliza e as mantêm numa condição de subalternidade. As dores emocionais, a depressão e os sintomas do luto, decorrentes das perdas gestacionais e neonatais, são frequentemente velados; embora as mulheres queiram expressar suas vozes, elas não têm encontrado oportunidade de escuta acolhedora e de facilitação da gestão emocional durante o período que abarca da gestação ao puerpério. A dimensão da multiculturalidade presente em Cacheu e no país requer ser incluída nas formulações de propostas e nas intervenções programáticas, conduzidas pelos atores que agenciam o cuidado materno-infantil, tornando as intervenções mais humanizadas e sistêmicas, comprometidas com a ética do cuidado.
en
This study, part of a PhD programme in African Studies, aims to understand the challenges and perspectives of Sexual and Reproductive Health (SRH) in Sub-Saharan Africa, a global region with the worst maternal, neonatal and infant mortality rates in the world. The study also describes and analyses the experiences practices of conception, pregnancy, childbirth and maternal and child care, from the perspective of cultural diversity and traditional practices and in interaction with external interventions of maternal and child health care projects, starting from of the Case Study of the daughters of Cacheu, in Guinea-Bissau. The aim was to identify, through documentary and bibliographical research, interviews, focus groups and participant observation, the condition of maternal and child health existing in the Republic of Guinea-Bissau, to learn about traditional rites and practices present in the processes of conception, pregnancy, childbirth and early child care, analysing the interactions between cultural knowledge and practices and biomedical interventions. It was understood that violence, including obstetric violence, makes women subjects, as well as, the inability to decide for themselves about contraceptive methods, makes them vulnerable and keeps them in a condition of subalternity. Emotional pain, depression and symptoms of grief resulting from gestational and neonatal losses are often veiled, although women want to express their voices, they have not found opportunities to be listened to neither emotional management support during the period that encompasses the gestation to the postpartum period. The dimension of multiculturalism present in Cacheu and in the country needs to be included in the formulation of proposals and programme interventions, conducted by those who provide maternal and child care, making interventions more humanised and systemic, committed to the ethics of care.