Título
Quotidianidade da fronteira na experiência de vida dos saharauís refugiados em Tindouf
Autor
Reis, Rita Marcelino dos
Resumo
pt
Procura-se perceber a configuração subjectiva e social da fronteira na experiência de vida dos refugiados saharauís que vivem em campos na região de Tindouf, Argélia (o primeiro, onde actualmente vivem cerca de 190 mil pessoas, foi criado em 1976), considerando que são um povo fragmentado, dividido entre o Sahara Ocidental (ocupado por Marrocos) e os acampamentos, ansiando por uma resolução da sua situação, projectando o seu futuro noutras condições, noutro espaço.
Considerando que as fronteiras são “regiões de espaços” (Balibar, 2010: 316) geográficos, históricos, sociais e emocionais, com “significados para os actores” (Ortner, 2007: 383), “centros de relações” (Godinho, 2007: 67), produtoras de representações e imagens de pertença e exclusão, o desafio desta investigação é analisar, através do estudo de caso saharauí, as várias intersecções da noção de fronteira: geográfica, a “fortaleza de areia” erguida por Marrocos, espacial (as imediações do campo de refugiados, perceptiva (a fronteira entre serem livres ou viverem aprisionados pelo tempo (Caratini, 2006: 14)), memorial (a distância histórica e as evocações do passado).
O futuro aparece projectado no Sahara Ocidental libertado, mesmo para as gerações que nasceram nos acampamentos, e embora esse seja um desejo muito forte, não existe qualquer perspectiva temporal para tal, uma vez que a população espera pela realização de um referendo de autodeterminação, que proporcionaria assim o regresso ao seu território, desde de 1991. Há mais de duas décadas que vivem no suspenso temporal, “trancados numa terra de ninguém” (Friese e Mezzadra, 2010: 304), sem alterações políticas à vista.
en
It seeks to understand the subjective and social setting of the border in the life experience of the Saharawi refugees living in camps in the region of Tindouf, Algeria (the first, which is currently home to about 190,000 people, was created in 1976), since these are a fragmented people, divided between Western Sahara (occupied by Morocco) and the camps, hoping for a resolution of their situation, projecting its future in other circumstances, in another space.
Considering that borders are "regions of space" (Balibar, 2010: 316) geographical, historical, social and emotional, with "meanings to the actors" (Ortner, 2007: 383), "centers of relations" (Godinho, 2007: 67), producers of representations and images of belonging and exclusion, the challenge of this research is to analyze, through Saharawi case study, the various intersections of the notion of boundary: geographical, the "fortress of sand" erected by Morocco, spatial (the vicinity of the field refugees), perceptive (being in the boundary between living free or imprisoned by the time (Caratini, 2006: 14)), memorial (distance and historical evocations of the past).
The future appears projected in the Western Sahara released, even to generations born in the camps, and although this is a very strong desire, there is no time frame for this, since the prospect for a referendum on self-determination, which thus provides a return to its territory since 1991. For over two decades living in suspended time, "locked into a no man's land" (Friese and Mezzadra, 2010: 304), without political changes in sight.