Título
PME’s em “clusters”: Desenvolvimento de vantagens competitivas em indústrias maduras, em mudança lenta. O caso da indústria Portuguesa de calçado
Autor
Cardeal, Nuno César de Jesus Guerra
Resumo
pt
Como é que as empresas desenvolvem as capacidades que lhes permitem ter vantagens
competitivas em envolventes em mudança? A teoria baseada nos recursos (Resource-Based
Theory), embora tendo atingido uma posição de proeminência entre as teorias da área da
estratégia, não conseguiu dar resposta a esta questão, tendo todavia assinalado que é através
da organização de pacotes de recursos críticos que as empresas conseguem obter vantagens
competitivas. Por oposição à teoria baseada nos recursos, que tem um enfoque essencial no
contexto interno à empresa, a teoria das capacidades dinâmicas (Dynamic Capabilities)
introduziu a dimensão externa à empresa: a envolvente. Capacidades Dinâmicas podem ser
definidas como a capacidade da empresa integrar, construir e reconfigurar competências
internas e externas para rapidamente fazer face a mudanças na envolvente. Mas, e se
estivermos interessados particularmente no desenvolvimento de capacidades, em empresas
localizadas em “clusters”? A teoria baseada nos recursos coloca uma ênfase especial na
importância da posse dos recursos críticos e nos mecanismos para o seu isolamento, o que por
sua vez parece constituir uma contradição com a situação dos “clusters”, na qual o
conhecimento “paira no ar”. Para além disso, existe um forte efeito de complementaridade no
contexto dos “clusters”. Com frequência diferentes empresas especializam-se em áreas
específicas e diferentes da cadeia de valor. Por oposição à lógica de integração vertical
significativa, na qual a origem da vantagem competitiva decorre do desenvolvimento e
utilização de recursos internos à empresa, nos “clusters” as empresas são frequentemente de
pequena dimensão, familiares, resultando a vantagem competitiva da forma como se
organizam entre si, numa lógica de articulação especializada. Ou seja, com frequência nos
“clusters” as vantagens competitivas das empresas decorrem da forma como utilizam
recursos externos (às próprias empresas), algo que está em desacordo com os fundamentos da
Teoria Baseada nos Recursos.
O problema de investigação associado a este projecto reside na forma como pequenas e
médias empresas (PME’s), localizadas em “clusters”, e que operam em indústrias maduras
em mudança lenta, criam novas capacidades potencialmente geradoras de vantagem
competitiva, no novo contexto da envolvente. A pergunta de investigação associada é: Como
é que as capacidades que estão na origem da vantagem competitiva da empresa foram
criadas ao longo do tempo? Ao introduzirmos as condicionantes “PME’s” e indústrias
maduras em mudança lenta, às questões com que iniciámos este resumo, cremos poder dar um importante contributo para a gestão, num contexto que ainda é relativamente pouco
conhecido e que, por isso, carece de mais investigação.
Para respondermos à pergunta de investigação, adoptámos uma metodologia de múltiplos
estudos de caso. Após identificarmos um total de 5 capacidades nos 3 estudos de caso
efectuados a empresas portuguesas fabricantes de calçado, testámos até que ponto é que cada
uma delas passa o teste VRIO e, seguidamente, numa abordagem de análise cruzada das
referidas 5 capacidades, propomos um modelo para o desenvolvimento de capacidades
geradoras de vantagem competitiva, por PME’s, localizadas em “clusters”, que operam em
indústrias maduras, em mudança lenta.
en
How do companies develop capabilities that allow them to have competitive advantages in
changing environments? The Resource-Based View (RBV) although having reached a
position of prominence among the theories in the field of strategy, failed to answer this
question. Nevertheless RBV has highlighted that by organizing packages of critical resources,
companies can gain competitive advantages. As opposed to RBV, which has an essential
focus in internal context of the firm, the theory of Dynamic Capabilities introduced the
external dimension to the company: the environment. Dynamic Capabilities can be defined as
a company's ability to integrate, build and reconfigure internal and external competences to
quickly cope with changes in the environment. But what if we are particularly interested in
capabilities development in companies located in clusters? The RBV places special emphasis
on the importance of ownership of critical resources and in the mechanisms for its isolation,
which in turn seems to be a contradiction to the reality of clusters in which the knowledge “is
in the air ". In addition, there is a strong complementary effect in the context of clusters.
Often different companies specialize in different areas and different parts of the value chain.
As opposed to the logic of strong vertical integration, in which the source of competitive
advantage lies in the development and use of internal resources (to the firm), in clusters
companies are often small, family owned. The competitive advantage stem from the way they
organize themselves on a way of specialized articulation. In another words, the competitive
advantage of firms in clusters often stem from how they use external resources (to the firm),
something that is at odds with the fundamentals of the RBV.
The research problem involved in this project lies in how small and medium enterprises
(SMEs) located in clusters, and operating in mature industries changing slowly, create new
capabilities that allows them to develop competitive advantage in the new environmental
reality. The associated research question is: How were the capabilities that underlie the
company's competitive advantage created over time? By adding the constraints "SMEs" and
mature industries changing slowly, to the issues with which we started this abstract, we
believe we may give an important contribution to management in a context that is still
relatively unknown and therefore needs more research.
To answer the research question, we adopted a methodology of multiple case studies. After
identifying a total of five capabilities in three case studies of Portuguese shoes manufacturers,we tested to what extent each capability passes the test VRIO and then in an approach of
cross-case analysis of these five capabilities, we propose a model to develop capabilities that
generate competitive advantage for SMEs located in clusters, operating in mature industries,
changing slowly.