Nas últimas décadas, numerosos estudos apontaram dificuldades nas relações entre jornalistas e cientistas, representantes de dois tipos distintos de racionalidades e lógicas de acção. Recentemente, algumas análises têm verificado movimentos de proximidade e cooperação entre os dois protagonistas. Esta dissertação apresenta uma pesquisa empírica que verificou os modos de articulação das duas lógicas culturais, bem como os sentidos sociais accionados pelos actores no desencadear de regras informais unificadoras durante as entrevistas. A partir de 20 notícias com conteúdos científicos, publicadas em três jornais, e onde estavam explícitos os nomes dos jornalistas e dos cientistas que estiveram em contacto, procedemos a uma observação indirecta das interacções, através dos relatos dos agentes. A análise qualitativa teve como referencial teórico um conjunto de conceitos como ordem da interacção, sistemas de regras sociais, quadro e cultura de interacção, centrais para o esclarecimento das acções e intencionalidades dos agentes em co-presença. A principal conclusão desta análise pode ser sintetizada da seguinte forma: quando jornalistas e cientistas se encontram numa entrevista, desenvolvem estratégias de articulação de regras dos seus campos e de disposições adquiridas em relações sociais mais vastas, que possibilitam a emergência de formas culturais específicas. Estas culturas da interacção traduzem-se num conjunto de informações científicas de compromisso, com o objectivo de integrar um texto jornalístico. Os resultados sugerem que os potenciais conflitos que as diferenças culturais poderiam desencadear se diluem nos quadros de interacção configurados pelos actores, que ali fazem confluir uma série de dimensões pessoais, sociais, profissionais, e desencadear um conjunto de práticas e representações convenientes aos objectivos do encontro.

In recent decades, numerous studies have indicated difficulties in relations between journalists and scientists, representatives of two distinct types of rationalities and logic of action. Recently, some analyses have found movements of proximity and cooperation between the two protagonists. This thesis presents an empirical research that found the ways of articulation of the two cultural logic as well as social meanings driven by actors when triggering unifying informal rules during interviews. Using 20 stories with scientific content published in three newspapers and with explicit names of journalists and scientists who were in contact, we proceed to indirect observation of interactions, through the agents’ reports. The qualitative analysis had a set of theoretical concepts, such as interaction order, social rule systems, frame and culture of interaction, that were central to the clarification of the actions and intentions of co-present agents. The main conclusion of this thesis can be summarized as follows: when journalists and scientists meet in an interview, they develop rules of articulation strategies of their respective fields and of dispositions acquired in broader social relations, which make possible the advent of specific cultural forms. These interaction cultures result in a set of specific pieces of scientific information, which are the reflection of a compromise between the dissonant interests, in order to be integrated into a journalistic article. The results suggest that the potential conflicts that social differences could come up with are reduced to the interaction between the participants, who attempt to merge a set of personal, social and professional goals and set forth a group of practices and representations compliant with the meeting’s purpose.