Título
Ser e paisagem: uma investigação ontológica numa comunidade rural japonesa
Autor
Alexandre, Ricardo Filipe dos Santos
Resumo
pt
A paisagem e os lugares que habitamos desempenham um papel indispensável na consciência
e relações humanas, sendo muito mais do que simples substrato físico à mercê da razão
humana. A sociedade japonesa oferece-nos uma cultura de paisagem bastante rica na qual se
podem procurar novas formas de pensar a relação entre ser humano e paisagem. Termos como
furusato, genfūkei, ou satoyama contêm uma forte carga simbólica e emocional e revelam,
heuristicamente, a importância da paisagem rural no Japão. Usando este facto como móbil da
investigação, procurar-se-á pensar a paisagem num diálogo intercultural com uma
comunidade rural japonesa, onde os temas são a paisagem, o ser humano enquanto habitante
de paisagem e a relação contínua e recíproca entre estes. Enquanto enquadramento teórico (i)
será evitado um posicionamento dualista e representativo que trate a paisagem como objecto
independente; (ii) levar-se-á a cabo um trabalho de compreensão moral da vida de quem
habita a referida comunidade e do modo como a paisagem se manifesta no seu quotidiano,
evitando o recurso a explicações simbólicas, históricas/políticas. Para este efeito, irá ser
apresentada a ‘teoria da não-representação’ como inspiração para o nosso envolvimento com
os grupos, sociedades ou indivíduos que estudamos. Posteriormente, o conceito de 'espaço' irá
ser reavaliado através da filosofia ocidental e japonesa. Reavaliar o espaço enquanto
"possibilidade de relação" permitirá suportar a principal tese desde trabalho e de toda a sua
componente etnográfica: para pensar a paisagem é necessário, primeiro, olhar para o ser
humano e para os seus afazeres.
en
The landscape and the places we inhabit play an important role in human consciousness and
relations, being more than a simple physical substrate where Humans apply their reason.
Japanese society presents us with a rich landscape culture where we can look for new ways to
think about the relation between humans and their landscapes. Concepts like furusato,
genfūkei, or satoyama, with their strong symbolic and nostalgic content, show us, heuristically,
the importance of rural landscape in Japan. Using this fact as a trigger for the following
investigation, I will think about landscape through an intercultural dialogue with a Japanese
rural community, on the themes of landscape, the human being as a landscape inhabitant and
their continuous and mutual relationship. Regarding the theoretical framework, (i) I will avoid
a dualistic and representative approach that treats the landscape as an independent object and
(ii) engage in a moral understanding of the lives of those who inhabit the mentioned
community and the ways the landscape manifests itself in their daily life, avoiding symbolic,
historic or politic considerations. For this, the ‘non-representational theory’ will be presented
as an inspiration for our involvement with the groups or individuals we study. Then, the
concept of ‘space’ will be reassessed both through Western and Japanese philosophy.
Reassessing space as “the possibility of relation”, will allow me to support the main argument
of this work and its ethnographic section: to think about the landscape, we must turn first to
the human being and his tasks.