Título
Lixo marinho e práticas piscatórias: o estudo de caso do Estuário do Sado
Autor
Batista, Joana Sá Couto Lomba
Resumo
pt
A poluição marítima por plásticos tem sido considerada um dos mais graves problemas
ambientais do Antropoceno. Apesar da escala global do problema, e das muito diversas origens
dos plásticos que se encontram no mar, uma atenção particular tem sido dada ao lixo naval. Os
plásticos de origem, não só naval, mas especificamente piscatória, alcançaram uma percepção
maior, na opinião pública e nas preocupações dos ambientalistas, pela sua visibilidade em locais
muito frequentados, como praias e zonas ribeirinhas, mais do que pelo seu contributo para a
enorme massa de plásticos nos oceanos. As pressões exercidas sobre os pescadores da pesca
artesanal, responsabilizados por esta poluição, ganharam, assim, expressão, e constituem hoje
uma fonte de tensões sociais, e de equívocos, que muito dificultam a condição social de vida
desta classe profissional, que se encontra em situação crítica, tanto do ponto de vista económico
como social.
A pesquisa apresentada nesta dissertação desenvolveu-se com a comunidade piscatória de
Setúbal, cidade fortemente marcada pela sua tradição piscatória, hoje declinante como atividade,
embora crescente como recurso de identidade local.
Através de uma etnografia das práticas e representações da poluição marítima por plásticos,
realizada junto dos pescadores artesanais de Setúbal, identificaram-se equívocos e tensões que
estão na base do problema e das suas opostas conceções. Foi também possível detetar e
compreender a realidade social complexa da comunidade piscatória, e daí o significado social
do equívoco gerado entre pescadores e ambientalistas em torno da poluição por plásticos.
en
Maritime plastic pollution has been considered one of the worst environmental problems of the
Anthropocene. Despite the global scale of the problem, and the many sources of plastic found in
the sea, special attention had been given to naval garbage. Plastics which origins are from, not
only naval, but fisheries based, have reached more proeminent perception in the public opinion
and in the concerns of environmentalists, because of its visibility in highly frequented spaces, like
beaches and riverside areas, more than its contribution to the high-volume mass of plastic found
in the ocean. Exerted pressure on artesanal fishermen, held accountable for this pollution, have
gain expression and constitute a source of social tensions, and misunderstandings, that hinder
the social condition of fishermen’s life, today facing a critical situation, both from an economic and
a social point of view.
The research presented in this dissertation was developed within the fishing community of
Setúbal, a city strongly defined by its fishing tradition, today declining as an activity, althought it
has been increasingly used as a resource of local identity.
Through an ethnography of the practices and representations of maritime plastic pollution,
accomplished with the artesanal fishermen of Setúbal, were identified tensions and
misunderstandings that are the base of the problem and its opposing conceptions. It was possible
to detect and understand the complex social reality, hence the social meaning of the
misunderstanding generated between fishermen and environmentalists around plastic pollution.