Título
Coesão intrapartidária no Portugal pós-troika: tipos de militantes e (in)congruência ideológica
Autor
Lopes, Hugo Ferrinho
Resumo
pt
O crescente interesse da ciência política sobre membros partidários revelou-se sintomático da saliência
destes agentes e do seu papel nas democracias representativas. A "crise da militância" fez com que se
tente perceber o perfil daqueles que continuam a participar internamente. Todavia, ainda que esta
investigação seja crucial para avaliar vários aspetos da qualidade da representação política, o debate
internacional sobre a filiação partidária encontrou parca recetividade em Portugal. Os estudos sobre a
militância são escassos e têm-se circunscrito às dimensões institucionais e formais dos partidos. Não
obstante, o caso português é relevante por várias razões. O sistema eleitoral, a competição bipolar do
sistema multipartidário e a existência de várias tipologias partidárias permitem testar a lei de May. Por
conseguinte, procurando contribuir para preencher esta lacuna e "explicar as causas da heterogeneidade
ideológica entre membros e partidos depois da crise económica", suportamo-nos em dados recentes
sobre filiados, delegados e deputados. Analisamos em que medida existem membros que se distanciam
ideologicamente do seu partido, quem são, o que pensam e como se distinguem. Os resultados suportam
largamente as nossas expectativas e têm implicações importantes para futuras investigações sobre as
consequências do resgate financeiro, a polarização e facciosismo em perspetiva longitudinal e
comparativa. Existem diferentes proporções de disparidade ideológica de acordo com a tipologia
partidária. A incongruência varia também de acordo com a hierarquia da militância, sendo mais a norma
que a exceção, e é explicada por motivações instrumentais, pela satisfação com o funcionamento interno,
a emancipação dos membros e a deslealdade eleitoral prévia.
en
The increasing interest in political science regarding party members is a symptom of the salience of this
agents and their role in representative democracies. The ‘crisis of the membership’ lead researchers to
try to understand the profile of those who still participate through political parties. However, although
this widespread investigation is crucial to examine many details of political representation, the
international debate on party members found lack of acceptance in Portugal. Studies on party
membership are scarce and rely mostly on parties’ formal and institutional dimensions. The Portuguese
case is relevant for several reasons. The electoral system, the bipolar competition of the multiparty
system and the existence of different party typologies provide the conditions for testing May’s Law.
Therefore, seeking to contribute to fill this gap and "explain the causes of ideological heterogeneity
between members and parties after the economic crisis", we rely on newly data about party affiliates,
delegates and MPs. We measure the extent in which organizations contain members who distance
themselves from the party, who they are, what they think and what distinguish them. Findings largely
support our expectations, having important implications for future research on the consequences of the
financial bailout, polarization and factionalism in longitudinal and comparative perspetive. There are
significant differences in the proportions of ideological "mismatch" according to party types.
Incongruence also varies between membership hierarchies, being more the norm than the exception, and
its explained by instrumental motivations, satisfaction with internal democracy, members emancipation
and previously defected votes.