Passam, hoje mesmo, 50 anos sobre a data de criação da minha escola, o Iscte, Instituto Universitário de Lisboa. Foi o primeiro passo da mais importante reforma das universidades portuguesas no século XX, conhecida como a Reforma Veiga Simão, apoiada e induzida por setores progressistas e desenvolvimentistas do regime autoritário. A democracia, depois de abril de 1974, veio confirmar e atualizar o sentido da reforma, criando as condições necessárias à concretização dos seus objetivos modernizadores.
Há 50 anos, o Iscte começou com 250 estudantes, hoje tem 13.000. Tinha dois cursos de licenciatura, hoje tem 25, a que se juntam mais de 50 cursos de mestrado e de doutoramento. Apesar deste crescimento, manteve-se como instituto universitário especializado nas suas áreas iniciais, a que foi associando outras, procurando aprofundar a qualidade do que faz e cumprir bem a sua missão de serviço público.
São vários os traços distintivos desta instituição, cujos destinos tenho o privilégio e a responsabilidade de conduzir. Desde logo, a articulação estreita entre as atividades de ensino e de investigação, estabelecida no momento fundador com o envolvimento, como docentes, dos jovens investigadores do Gabinete de Investigação Social (GIS) criado e coordenado por Adérito Sedas Nunes. Depois, a orientação para a valorização do mundo do trabalho e das empresas, bem como das instituições do setor público, pautada pela intervenção, a relevância e a aplicação do conhecimento que produz. Por fim, o pluralismo e os elevados graus de liberdade, de autonomia e de diversidade internas que permitiram uma trajetória longa de dinamismo e de inovação.
Sinais destes traços estão patentes, ainda hoje, na abertura, este ano de 2022, do Iscte-Sintra, Escola de Tecnologias Digitais, Economia e Sociedade. Com oito novos cursos de licenciatura, únicos em Portugal, levou o ensino universitário ao segundo concelho mais populoso do país e aquele em que reside maior número de jovens.
Escrevo esta crónica e o meu pensamento desvia-se para a guerra na Ucrânia e para os estudantes que de lá nos chegam. São pouquíssimos. A guerra mobiliza os jovens, não lhes permite continuar a estudar. A guerra destrói vidas humanas, cidades inteiras, infraestruturas, e também instituições, como as universidades, que demoram décadas a construir, mas que podem desaparecer num curto lapso de tempo.
A sorte que temos! Mas também a responsabilidade de preservar e fortalecer as instituições que recebemos como herança de gerações anteriores.
Maria de Lurdes Rodrigues
(in: JN 15.12.2022)
Iscte - Um espaço para crescer.