Seminário Permanente de Estudos Africanos - Pensar África
Desde finais do século XVIII, e ao longo de todo o XIX, inúmeras fontes primárias, monografias e compêndios sobre a situação económica e geográfica da colónia angolana estabelecem e reiteram de forma inequívoca o vínculo entre acusações de prática de feitiçaria e a escravização de negros africanos. Contudo, o impacto historiográfico destas provas documentais tem sido praticamente nulo.
Nas obras de referência sobre o tráfico negreiro continua a ser dado destaque quase exclusivo a outras formas de criação de escravos, desde os raptos e o aprisionamento de combatentes inimigos, à penhora por dívidas ou à condenação por crimes de adultério, furto ou trespasse. Efeito claro da vigência de práticas historiográficas de marcado viés materialista, esta tendência ainda assim constitui um avanço, tendo em conta as anteriores histórias militares ou hagiografias missiológicas.
Nas últimas duas décadas, as crenças e as práticas relacionadas com a feitiçaria, quer na África negra subsaariana, quer no Atlântico Negro, voltaram porém a estar no foco das análises sociológicas dos contextos urbanos e pós-coloniais, do continente e da diáspora. A antropologia, por sua vez, virou-se para as discussões metafísicas e ontológicas. Que impactos podem ter estas evoluções disciplinares na forma como se escreve a história da escravatura? Que contributo podem os historiadores oferecer aos estudos africanos dedicados ao tema da feitiçaria contemporânea?