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A Rita e a Bina cruzaram-se no âmbito de um projeto no Bairro da Quinta da Vitória, em Lisboa. Rita, antropóloga, e Bina, habitante em processo de realojamento – investigadora e informante no terreno – tornaram-se amigas e autoras improváveis de um livro de receitas de cozinha indiana-gujarati. Decorria o ano de 2000, o livro materializou-se em 2016.
Rita Ávila Cachado, investigadora no CIES-IUL, especialista na área das migrações, transnacionalidade e habitação, conheceu o bairro Quinta da Vitória através de um estágio pela Câmara Municipal de Loures. Trabalhou as questões associadas à população hindu durante todo o seu percurso académico, com pesquisa focada no período final do colonialismo português na Índia, culminando no doutoramento sobre o realojamento do bairro Quinta da Vitória, onde Bina era moradora. Com trabalho de campo em Diu, Leicester, Londres e Maputo, foi neste bairro lisboeta, na Portela de Sacavém, e realojado parcialmente em 2002 no bairro Alfredo Bensaúde, que nasceu a ideia de um livro sobre cozinha indiana-gujarati.
Conforme relata a autora no livro, ‘um dos aspetos interessantes neste caso, e que provocou a vontade de querer juntar num livro este conjunto de receitas, é que a Bina cresceu numa família vegetariana e, ao casar-se numa família não vegetariana, junta em si dois conhecimentos de cozinha divergentes’.
O livro ‘Coentros & Garam Masala. Uma Cozinha Indiana-Gujarati em Portugal’ nasce da investigação à mesa com uma ‘cozinheira de mão cheia’ que alimentava a pesquisa antropológica de Rita Ávila Cachado, e transforma-se numa forma de valorizar não só a cultura gastronómica de Bina Achoca, mas igualmente traz a todos um conhecimento de algumas práticas culturais da população hindu em Portugal, incluindo receitas que se adaptam ao contexto português como o ‘caril de bacalhau’ ou as ‘moelas com tempero gujarati’, sem esquecer as já famosas ‘melhores chamuças de Lisboa’!
Como acrescenta Rita Cachado:
‘publicado no final de 2016, este livro resulta de um projeto que foi ganhando corpo, entre uma antropóloga e a sua interlocutora privilegiada. Ao longo dos anos de investigação com a população Hindu-Gujarati em Portugal a necessidade de retorno à população foi crescendo. Houve várias publicações académicas, mas nenhuma para o grande público. De facto, o processo de recolha das receitas para o livro não correspondeu a um trabalho aprofundado de cultura material ou de antropologia da alimentação. Não sendo um trabalho antropológico, decorre contudo de uma relação sedimentada em contexto etnográfico.’
Na Noite Europeia dos Investigadores 2017 haverá um show cooking, à semelhança do que aconteceu recentemente na Feira do Livro de Lisboa.
Para seguir: https://www.facebook.com/CoentrosGaramMasala/