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O “Programa Académico Multisectorial para o Combate e Prevenção do Corte/Mutilação Genital Feminina (C/MGF)” é um projeto de investigação que envolve diversas universidades, incluindo o ISCTE-IUL através do CEI-IUL, em parceria com a Universidade Rey Juan Carlos de Madrid, entre outras universidades e entidades.
Laura Nuño é uma das responsáveis por este projeto que procura formar profissionais de várias áreas numa política de sensibilização e prevenção. A especialista explica a importância do tema e o trabalho desenvolvido numa breve entrevista.
Ricardo Falcão | Laura, é a diretora do Observatório do Género da Universidade Rey Juan Carlos (URJC) de Madrid, como surgiu este projeto? Que obstáculos enfrentou para criar um observatório focado no género?
Laura Nuño | Fundamentalmente, os estudos do género e da teoria feminista tendem a ser entendidos como ideologia e, assim sendo, como não-ciência. E essa consideração determina o espaço marginalizado que é dado a estes estudos dentro da academia e explica o porquê desta área científica de conhecimento ser questionada e desvalorizada.
R.F. | Também é responsável por vários programas de estudos sobre o género, pela sua experiência como é que a sociedade Espanhola lida com as questões de género?
L.N. | Os compromissos legislativos existentes relativos à inserção da igualdade de género em todos os níveis de educação não estão a ser cumpridos. O não cumprimento com a lei da igualdade não tem consequências e a sua implementação depende, na prática, do voluntarismo de todos.
R.F. | Através da URJC está a coordenar o projeto MAP-FGM, porque decidiu trabalhar sobre Mutilação Genital Feminina?
L.N. | Porque é extremamente raro encontrar cursos onde a MGF fosse parte da Formação de futuros profissionais. A ignorância sobre o significado e implicações desta prática tem consequências prejudiciais nas raparigas e mulheres em risco de ser sujeitas a isso.
R.F. | Em que consiste o projeto, e porque é que é importante num momento como o atual?
L.N. | De forma a evitar as consequências desta falta de conhecimento, MAP-MGF procura incorporar a formação em C/MGF na educação universitária de forma estandardizada e de uma perspetiva interdisciplinar. É importante porque vivemos em sociedades que estão a tornar-se mais plurais em termos culturais e isso desafia-nos a todos, especialmente médicos, enfermeiros, professores, assistentes sociais, advogados, decisores políticos, etc.
R.F. | À parte o Guia Multisectorial que coordenou com uma equipa de peritos, quão importante é o projeto ter estes seminários académicos? E até agora quantos houve?
L.N. | Porque as práticas culturais são fenómenos complexos com várias arestas. Os congressos internacionais são espaços de debate e reflexão que permitem a troca de experiências, descobertas ou pesquisas e boas práticas com a profundidade e complexidade requeridas.
R.F. | O ISCTE-IUL é um dos parceiros do projeto, como são outras universidades em Roma, Bruxelas e fundações em Barcelona e Itália. Porque é que é importante criar um rede de trabalho sobre MGF e questões de género?
L.N. | Precisamente pelo que referi antes. Só numa abordagem interdisciplinary é que é possível abordar um tópico como o C/MGF. Trabalhar numa rede de peritos permite um conhecimento e experiência partilhados.
R.F. | Quão importante será para as universidades incorporarem questões associadas aos Direitos Humanos numa abordagem orientada para a ação?
L.N. | Porque seria um disparate não o fazer. Se não incorporar estes aspetos na educação superior, especialmente na universidade, onde irá fazê-lo? Os nossos dias atuais de p´raticas neoliberais, militaristas e patriarcais não são um caminho fácil para os direitos humanos, e o primeiro passo para exigir direitos humanos é conhecê-los.
O III Seminário Internacional do projeto MAP-FGM decorrerá em Lisboa, organizado pelo CEI-IUL, nos dias 28 e 29 de setembro, no ISCTE-IUL, subordinado ao tema ‘Institutional Respondes to FGM/C’. Veja o programa aqui.
Guia Académico Multisectorial sobre o Corte/Mutilação Genital Feminina (C/MGF)