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Produzir para consumir é a metodologia do projeto » PROVE - Promover e Vender « que procura incentivar a produção local e o consumo de produtos saudáveis adquiridos junto do produtor. Uma política de proximidade que favorece circuitos curtos de comercialização. Estas boas-práticas sustentáveis na produção e no consumo atingem um número crescente de pessoas. O projeto europeu INHERIT (H2020), desenvolvido no ISCTE-IUL pelo CIS-IUL, com a coordenação de Sibila Marques, evidencia a importância da promoção do ambiente e saúde nas áreas do planeamento urbano, mobilidade e consumo.
Através deste projeto foram identificadas práticas promissoras em todo espaço europeu e destacou-se o projeto PROVE de apoio à produção local sustentável de frutas e legumes, envolvendo pequenos agricultores e os próprios consumidores. Falámos com a coordenadora do projeto que avalia esta iniciativa INHERIT PROVE para perceber melhor o que é esperado.
A sustentabilidade é, de facto, uma aposta importante neste momento e cada vez mais. Qual o impacto já sentido nas localidades em que está implementado o projeto? E quais os resultados esperados?
Sibila Marques | O principal impacto parece ser na dinamização da economia local e o empoderamento dos pequenos agricultores, que ganham novas ferramentas para produzir e comercializar os seus produtos. Sabemos que, desde a sua implementação em 2006, se verificou um crescimento substantivo do PROVE, não somente na sua abrangência territorial, no aumento do número de distritos e municípios onde surgem consistentemente novos Núcleos, no aumento do número de consumidores, mas também no número de parceiros, ou entidades dinamizadoras do projeto – os denominados Grupos de Ação Local (entidades públicas e privadas, Núcleos locais, Produtores e Consumidores).
A última avaliação feita ao PROVE foi realizada em 2011/12, pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa (ISA) e o Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), cujos relatórios de avaliação estão disponíveis no site do PROVE. Esse relatório de 2012, respeitante ao período entre 2009 e 2011, revela que em termos de impacto a maioria dos produtores (entre 50% e 65%) consideraram que o PROVE contribuiu para o cultivo de novos produtos, o aumento da área de culturas hortícolas, a melhoria das condições de comercialização, a melhoria dos rendimentos da exploração, bem como da capacidade de cobrir despesas geradas pela mesma. Mais de 62% dos produtores referiu existir um sentimento de pertença a um grupo, que partilha objetivos comuns e valores relacionados com agricultura, ambiente e alimentação. Este aspeto considera-se, igualmente, uma importante variável de impacto considerando as dimensões atitudinais e comportamentais associadas à adoção de práticas ambientalmente sustentáveis e promoção de estilos de vida saudáveis.
O nosso trabalho no âmbito do projeto europeu INHERIT pretende avaliar outro tipo de impactos relacionados com o PROVE. Especificamente pretendemos perceber como o PROVE influencia a promoção de práticas mais saudáveis e ecologicamente sustentáveis junto dos consumidores e produtores.
Atualmente, a equipa do CIS-IUL encontra-se em fase preparatória para a recolha de dados, pelo que não dispomos ainda de resultados que permitam fazer uma análise comparativa face a 2012. Contudo espera-se obter resultados significativos ao nível dos processos colaborativos e intersectoriais da rede PROVE, do empoderamento individual e social dos produtores PROVE, de atitudes promotoras da saúde e bem-estar, bem como de preservação ambiental e hábitos alimentares e de consumo de vegetais e frutas.
Registou-se um crescimento significativo desde a implementação até agora, qual a população alvo (agricultores e consumidores) em que notam já maiores evoluções?
Sibila Marques | Dos dados atualmente disponíveis, baseados no relatório de avaliação do PROVE (2012) e das informações mais recentes disponibilizadas pela ADREPES (principal promotora do PROVE e um dos GAL sediada no distrito de Setúbal), a maior evolução verifica-se no aumento da abrangência territorial, pelo número de Grupos de Ação Local e Núcleos de produtores PROVE, bem como no crescimento dos consumidores PROVE.
Desde 2012 até 2017, o número de Núcleos aumentou de 21 para 117, os promotores (Grupos de Ação Local) passaram de 8 para 17 - distribuídos por 15 distritos contra os anteriores 12. Em termos de incidência, os distritos com maior número de Núcleos são Lisboa, Porto, Setúbal e Aveiro, sendo que os distritos com maior número de produtores são Porto, Braga e Setúbal.
No que respeita ao universo de consumidores contabilizam-se, atualmente, 4 875 consumidores ativos (Lisboa, Setúbal e Aveiro são os distritos com maior número de consumidores ativos; Viseu, Beja, Viana do Castelo e Santarém os distritos com menor número de consumidores); e 8 470 consumidores pendentes. Totalizando, desde o início do PROVE, 25 757 adesões.
É uma evolução muito significativa, se considerarmos que o projeto de comercialização começou em 2006 com 2 grupos locais de um único concelho, nove agricultores e uma rede de consumidores de cerca de 30 pessoas.
Outros indicadores, como características sociodemográficas, hábitos de consumo e de dieta alimentar, atitudes face à sustentabilidade e agricultura local, nível de empoderamento e funcionamento e consistência das redes de parceria, serão ainda alvo de análise pelo CIS-IUL.
Quais as estratégias adotadas para a existência desta iniciativa a longo-prazo? Parcerias locais com autarquias, cooperativas, associações?
Sibila Marques | O percurso de desenvolvimento, implementação e extensão do PROVE foi suportado por financiamento comunitário, nomeadamente com os programas EQUAL e PRODER. Desde o ano 2016 que não existe financiamento específico à iniciativa, e o funcionamento tem sido assegurado pela rede de promotores locais. Essa ligação ao território, fomentada pela iniciativa, tem permitido a sustentabilidade da iniciativa a longo prazo. Sabemos que existem algumas tentativas de colocar núcleos PROVE a fornecer cantinas escolares, o que pode ser mais uma via reforçar essas dinâmicas. A ADREPES e seus parceiros procuram novas formas de financiamento do projeto e esperamos que o nosso estudo possa contribuir nesse sentido, dando visibilidade aos benefícios intersetoriais do projeto.
Por outro lado, a sustentabilidade da iniciativa ao nível da comercialização dos produtos locais parece estar assente no reforço da proximidade entre produtores e consumidores. Enquanto metodologia participativa e intersetorial, o PROVE utiliza como estratégias para a sua consolidação: um acesso direto e de proximidade entre produtores e consumidores, facilitado por recursos tecnológicos inovadores que permitem uma gestão e um planeamento da produção mais eficiente; o trabalho de parceria e cooperação entre produtores PROVE, através da produção diversificada de culturas, potenciam a comercialização e aumentam o rendimento daí decorrente, com impacto significativo nas condições de vida dos pequenos produtores. Produtores e consumidores consideram a relação de proximidade como um aspeto fundamental do PROVE, e valorizado positivamente por todos os agentes, uma vez que reforça os laços de confiança entre ambos e responde às exigências de qualidade dos produtos por parte dos consumidores, na medida em que se conhece o modo de produção (pequena produção particular), a origem (local) e ligação ao território (circuitos de comercialização curtos).
Um dos objetivos do projeto é implementar um ponto de entrega no ISCTE-IUL? Qual a área/população abrangida?
Sibila Marques | Estamos a encetar esforços para que a partir de 2019, o ISCTE-IUL passe a integrar a rede nacional de Núcleos do PROVE no distrito de Lisboa. Ao ser concretizada esta iniciativa, este núcleo terá como público-alvo toda a comunidade ISCTE (docentes, funcionários e alunos) e estará integrado dentro das atividades do programa de sustentabilidade e de promoção da saúde do ISCTE-IUL. Numa primeira fase, no âmbito do projeto INHERIT, pretende-se realizar uma avaliação diagnóstica junto da comunidade ISCTE-IUL acerca dos hábitos de consumo alimentares e intenção de adesão a iniciativas sustentáveis e promotoras de saúde como o PROVE. Acreditamos que a implementação de um Núcleo PROVE no ISCTE poderia constituir uma oportunidade inédita de avaliar e monitorizar a metodologia PROVE, desde a sua implementação até à sua consolidação, enquanto projeto-piloto para além de constituir obviamente um contributo essencial para a melhoria da qualidade de vida da comunidade ISCTE-IUL.
A avaliação da implementação do PROVE no ISCTE-IUL seria um ótimo caso de integração entre a investigação e a ação e teríamos o privilégio de contar com a supervisão científica de parceiros internacionais de grande prestígio como a University College of London e o RIVM (Instituto de Ambiente e Saúde Pública) da Holanda.