Título
Campo como infraestrutura: o percurso e drenagem da água no desenho do espaço público
Autor
Pereira, Ana Raquel Batista
Resumo
pt
No vale de Alcântara, terra fértil de vocação produtiva e de veraneio, a água sempre foi o elemento de ligação das diversas tipologias de espaço existentes: produtiva, industrial, lúdica e conventual. Contudo, a impermeabilização do solo e artificialização do
percurso da água complexificaram os sistemas hidráulico e hídrico, tornando-o incapaz de responder aos fenómenos de chuvas
torrenciais, cada vez mais frequentes.
A cidade de Lisboa e, concretamente, o Vale de Alcântara e áreas
circundantes conjugam os episódios torrenciais com o efeito direto
da maré, sobrecarregando uma infraestrutura de drenagem débil
e insuficiente.
Neste ensaio reflete-se sobre as virtudes infraestruturais do «campo» na cidade - a capacidade de drenagem e harmonização dos
sistemas ecológicos – e estuda-se uma «paisagem» que pertença ao
imaginário comum dos que a habitam.
O projeto propõe uma alteração dos sistemas de esgotos unitários
para separativos, possibilitando uma diminuição substancial da
carga nas infraestruturas a jusante, correspondentes às zonas baixas que também sofrem o efeito direto da maré. A separação dos
esgotos permite o aproveitamento da água das chuvas para a criação de um percurso lúdico-produtivo ao longo do qual se retarda,
armazena, filtra e desinfeta a água, irrigando-a para as extensas
áreas permeáveis do Alto de Santo Amaro. Inclui-se, assim, o ciclo
da água no desenho e vida da cidade. Explora-se ainda o jardim
comestível na tentativa de semear, cuidar e colher a felicidade na
cidade, estreitando a relação entre paisagem, infraestrutura, Homem, a sua mão e boca.
en
In the Alcântara Valley, a fertile land of productive and summer
calling, water has always been the link between the different types
of existing spaces: productive, industrial, recreational and monastic. However, the soil waterproofing and the artificialization of the
water's course have complexified the hydraulic and the natural
water system, making it unable to respond to the increasingly frequent phenomena of torrential rains.
The city of Lisbon and, specifically, the Alcântara Valley and its
surroundings combine torrential episodes with the direct tidal effect, overloading a weak and insufficient drainage infrastructure.
This essay reflects on the infrastructural virtues of the "countryside" in the city - the drainage ability and the reconcilement of
the ecological systems - and studies a "landscape" that belongs to
the common imaginary of those who inhabit it.
The project proposes to change the unitary sewage system to
separative, enabling a substantial reduction in the load on the
downstream infrastructures, corresponding to the low zones that
also suffer the direct tidal effect. The sewage separation allows
the use of rainwater to create a recreational and productive path
along which the water is slown, stored, filtered, disinfected and it is
irrigated for the broad permeable areas of Alto de Santo Amaro.
Thus, the water cycle is incorporated in the design and life of the
city. The vegetable garden is also explored in an attempt to sow,
care and reap the happiness in the city, strengthening the relationship between landscape, infrastructure, man, his hand and mouth.