O notório recuo do Estado no apoio à cultura e às artes, observável um pouco por todo o mundo desenvolvido, na linha de uma "nova normalidade" suportada num cenário de austeridade permanente, abre espaço a um renovado protagonismo da sociedade civil na sustentação das dinâmicas sociais, particularmente no domínio das artes e da cultura. Concorrentemente, assistimos, com maior incidência desde o último quartel de século passado, à construção e universalização de um quadro institucional de referência no domínio das relações entre actividade empresarial e sociedade caracterizado pela emergência de conceitos como governance, responsabilidade social, cidadania empresarial, ética empresarial, sustentabilidade, entre outros, que tornam incontornável para as empresas a consideração estratégica do respectivo contributo, em sentido lato, para as sociedades em que exercem a sua actividade. Integra-se nesta dimensão a constituição de fundações empresariais no domínio da cultura e das artes que emergem como actores potencialmente relevantes para o ecossistema do mercado da arte. A presente dissertação estrutura um olhar sobre estas organizações, sobre as motivações para a sua génese, suas características, modelos de actuação e contextos institucionais, elaborando igualmente sobre o seu papel potencial na sustentabilidade das dinâmicas do ecossistema. Orientando-se à perspectiva de continuidade desta linha de estudo, sistematizam-se as questões associadas aos sistemas de "governance" e sua contextualização às especificidades do tecido organizacional do sector social, como ponto de vista estruturante para futura investigação sobre os modelos de intervenção das fundações empresariais nos mercados da arte.

The "permanente austerity" syndrome that is affecting most of the developed world economies, setting a "new normal" of increasing governments' budget cuts, whose effects are being felt particularly in the arts and culture domains, opens an opportunity space for the civil society organizations to assume the leading role once held by public authorities mainly in countries with a long tradition of governmental presence in the cultural scene. Concurrently we are witnessing, particularly since the last quarter of the 20th century, the development and progressive globalization of a new institutional framework of business and society relationships characterized by the emergence of concepts like governance, social responsibility, corporate citizenship, business ethics or sustainability, framework that makes unavoidable the strategic consideration of social value generated by businesses as it is increasingly assumed as a major component of a social "license to operate". In this perspective the setting-up of corporate foundations in the arts and culture world by large businesses marks the emergence of potentially relevant new actors in the art markets ecosystem. This dissertation presents an overview of these organizations, the rationale for their emergence, their characteristics and operating models, as well as some perspective on their potential roles and contribution to the development and sustainability of the art markets dynamics. Looking forward to further development of this line of research an overview of major governance issues is provided, as well as a review of contingency factors present in the implementation in the social organizations' environment, in order to establish the governance system perspective as a research tool to "explain" foundations’ positioning and behaviors as agents in the arts market dynamics.