Esta tese versa sobre um conjunto de processos contemporâneos de requalificação, musealização ou apropriação de um conjunto de edifícios associados à ditadura portuguesa (1926-1974). A partir de uma pesquisa etnográfica desenvolvida entre 2016 e 2019, pretendeuse analisar os usos contemporâneos da antiga cadeia do Aljube e da subdelegação e prisão da polícia política no Porto - onde hoje se situam, respetivamente, o Museu do Aljube - Resistência e Liberdade e o Museu Militar do Porto - bem como da sua sede nacional em Lisboa, requalificada, em democracia, como um complexo de apartamentos. Ao longo desta investigação, pretendeu-se compreender o impacto social e pessoal da patrimonialização da memória da ditadura portuguesa - ou da sua ausência - e daqueles que a esta se opuseram, que significados são entretecidos por quem visita estes espaços em democracia e por quem os experienciou durante a ditadura. Esta pesquisa contribui para uma análise da trajetória destes espaços em democracia e para o campo dos Estudos Críticos do Património, perscrutando-se ao longo da tese uma conceção de património que, para além da sua materialidade, se define pela intangibilidade das memórias, das subjetividades e das agencialidades que o compõem.

This thesis focuses on contemporary processes of requalification, musealization, or appropriation of a set of buildings associated with the Portuguese dictatorship (1926-1974). Based on ethnographic research conducted between 2016 and 2019, I analyzed the contemporary uses of the former Aljube prison and the subdelegation and prison of the political police in Porto where today are located the Aljube Museum Resistance and Freedom, and the Military Museum of Porto, as well as its national headquarters in Lisbon, requalified in democracy as an apartment complex. Throughout this research, the aim was to understand the social and personal impact of the patrimonialization of the memory of the Portuguese dictatorship, or its absence, and of those who opposed it; the meanings woven by those who visit these spaces in democracy and by those who experienced them during the dictatorship. This research contributes to an analysis of the trajectory of these spaces in democracy and to the field of Critical Heritage Studies. Ultimately this research scrutinizes a concept of heritage which, in addition to its materiality, is defined by the intangibility of the memories, subjectivities and agencies that compose it.