Título
"A gente toma o pulso ao país": História de vida de um trabalhador do terminal de Gás Natural Liquefeito em Sines
Autor
Alvim, Matilde Martins Antunes Martinho
Resumo
pt
Esta dissertação procura, através da utilização da história de vida como principal terreno etnográfico, abordar uma contradição fundamental: a indústria do gás fóssil é, ao mesmo tempo, um suposto horizonte de segurança (laboral, energética, nacional) e de catástrofe (climática). Em plena crise climática, o capitalismo aposta na indústria do gás fóssil e vende-o como uma fonte de segurança energética, nacional e material. Sobretudo após a invasão russa da Ucrânia, o gás entrou no centro da geopolítica europeia como energia “verde” e como meio de “estabilidade” e “proteção” para a Europa. Ao mesmo tempo o gás é uma energia fóssil, é volátil, conflitual e reproduz as matrizes de poder capitalistas. A história de vida do João, o principal interlocutor desta tese, ilustra a contradição a uma escala “micro”. Trabalhador do terminal de Gás Natural Liquefeito de Sines, depois de décadas de trabalho precário e do recurso a várias estratégias de adaptação às constantes crises do capitalismo neoliberal, é na indústria do gás que desenha para si um 'horizonte de expetativa' material, tendo sempre presente no seu 'espaço de experiência' que o futuro no capitalismo é incerto. Através de relatos orais, tento traçar os imaginários em torno da materialidade do gás, da infraestrutura do terminal, da reprodução social, da transição justa e do futuro.
en
This dissertation seeks, through the use of life history as the main ethnographic terrain, to address a fundamental contradiction: the fossil gas industry is at the same time a supposed horizon of security (labour, energy, national) and catastrophe (climate). In the midst of the climate crisis, capitalism is betting on the fossil gas industry as a supposed horizon of energy, national and material security. Particularly after the Russian invasion of Ukraine, gas has entered the centre of European geopolitics as a ‘green’ energy and as a means of ‘stability’ and ‘protection’ for Europe. At the same time, gas is a fossil energy, it is volatile, conflictual, and reproduces capitalist power matrices. The life story of João, the main interlocutor in this thesis, illustrates the contradiction on a ‘micro’ scale. A worker at the Liquefied Natural Gas terminal in Sines, after decades of precarious labour and the use of various strategies to adapt to the constant crises of neoliberal capitalism, it is in the gas industry that he draws a material ‘horizon of expectation’ for himself, always bearing in mind in his ‘space of experience’ that the future in capitalism is uncertain. Through oral accounts, I try to trace the imaginaries surrounding the materiality of gas, the terminal’s infrastructure, social reproduction, the just transition and the future.