Teses e dissertações

Doutoramento
Psicologia Social de Lisboa
Título

Please don’t cue my memory! retrieval inhibition in collaborative and noncollaborative person memory

Autor
Garrido, Margarida e Sá de Vaz
Resumo
pt
O presente trabalho tem como objectivo geral estudar, num contexto de formação de impressões, os mecanismos de recuperação subjacentes à recuperação mnésica de informação social. O estudo da memória, em Cognição Social, tem sublinhado a importância dos processos de codificação e organização de informação social em memória, negligenciando os processos de recuperação, geralmente tidos como invariantes. Avanços recentes no estudo da memória, reformularam radicalmente as visões clássicas da memória dando conta da natureza diversificada de experiências e processos de recuperação propondo modelos dualistas de recuperação (e.g., Jacoby, 1991; Brainerd, Reyna, & Mojardin, 1999) bem como a reconsideração dos processos mnésicos como processos cognitivos socialmente distribuídos (e.g., Weldon & Bellinger, 1997). Na Cognição Social, os modelos de recuperação dual têm sido menos frequentes embora recentemente, o modelo TRAP (Garcia-Marques & Hamilton, 1996) tenha sugerido a existência de duas formas distintas de recuperação: exaustiva e heurística – acompanhando assim as novas concepções sobre memória. O modo exaustivo, envolve uma busca sistemática e não selectiva da memória, exigindo recursos cognitivos para a recuperação de itens específicos (como acontece geralmente na recordação livre). O modo heurístico constitui uma forma indirecta, mais rápida e menos exigente em termos de recursos de busca em memória que utiliza o grau de correspondência entre a pista de recuperação e os traços de memória armazenados como um todo, para aceder a determinado conteúdo da memória (por exemplo, a estimativa de frequências de determinado episódio). Três conjuntos de evidência distintos parecem apoiar esta dissociação. O mais evidente é talvez o estabelecimento do efeito dissociativo das expectativas na recordação livre (onde a informação incongruente apresenta uma recordação privilegiada; efeito de incongruência; e.g., Hastie & Kumar, 1979) e nas estimativas de frequência (onde a recordação pró congruente parece predominar; correlações ilusórias baseadas na expectativa; e.g., Hamilton & Rose, 1980) reportado na literatura Garcia-Marques & Hamilton, 1996; Garcia-Marques, Hamilton, & Maddox, 2002; Garcia-Marques, Hamilton, Garrido, & Jerónimo, 2003). Dois outros fenómenos parecem também apoiar esta dissociação. Estudos anteriores sobre o efeito de parte-da-lista como pista, (Slamecka, 1968) na memória de pessoas têm mostrado que a apresentação no momento da recuperação de parte de uma lista de itens previamente estudados, diminui a recordação dos itens não indiciados mas aumenta a estimativa de frequências correspondente (Garcia-Marques et al., 2002; Garrido, 2002). Um resultado semelhante tem sido obtido em paradigmas de recordação colaborativa (Weldon & Bellinger, 1997) que comparam o desempenho de recordação de grupos colaborativos (compostos por indivíduos em interacção, em que cada participante recorda os estímulos apresentados em voz alta e passa a vez ao seguinte) com o resultado da recordação (não redundante) em grupos nominais (compostos pelo mesmo número de participantes testados individualmente). Embora os grupos colaborativos apresentem um melhor desempenho que os indivíduos isolados, a performance da recordação de grupos colaborativos é inferior à dos grupos nominais. Deste modo, os efeitos inibitórios das pistas de recuperação, seja em indivíduos isolados seja em grupos colaborativos, ilustram o paralelo entre os processos de recuperação subjacentes aos efeitos de parte-da-lista como pista e à inibição colaborativa (Basden, Basden, Bryner, & Thomas, 1997). A explicação destes efeitos tem originado múltiplas propostas teóricas, contudo a generalização dos mesmos ao estudo da memória de pessoas não é automática. Conduzimos três estudos de formação de impressões, recorrendo a três paradigmas diferentes para examinar como é que a recuperação exaustiva e heurística são diferencialmente afectadas por: parte-da-lista como pista (Slamecka, 1968) (Experiência 1); recordação colaborativa (Weldon & Bellinger, 1997) (Experiência 2) e re-exposição a parte-da-lista (Bäuml & Aslan, 2004) (Experiência 3). As evidências obtidas fornecem apoio adicional a esta dissociação. Discutimos ainda as diferentes explicações para os efeitos e sugerimos uma nova proposta teórica para explicar os resultados obtidos - o Principio da Recapitulação Associativa (PRA). Este princípio sugere que quando a busca mnésica realizada no momento da recuperação não segue as associações inter-item formadas durante a codificação o desempenho na recordação será prejudicado. Para melhor testar este princípio manipulámos o grau de correspondência entre a organização dos itens apresentados no momento da codificação e da recordação, utilizando três paradigmas distintos: manipulando a organização de pista de recuperação (Experiência 4); fornecendo no momento da codificação aos participantes de um mesmo grupo colaborativo de recordação, itens organizados de forma semelhante ou distinta (Experiência 5), manipulando a natureza da codificação (colaborativa vs. não colaborativa) (Experiências 6 e 7). Os resultados mostram que quando a organização das pistas apresentadas no momento do teste, quer pelo experimentador quer pelos outros membros do grupo colaborativo, não correspondem à organização utilizada no momento da codificação, o desempenho na recuperação é prejudicado. Contudo, quando a organização dos itens no momento da codificação é a mesma que a apresentada no momento do teste estes efeitos desaparecem ou são atenuados. Finalmente, introduzindo um novo de paradigma de codificação/recordação colaborativa, mostrámos que o efeito de inibição colaborativa é moderado pela natureza colaborativa da formação de impressões. Embora em condições individuais de formação de impressões se replique o efeito de inibição colaborativa, quando a impressão é formada colaborativamente o efeito de inibição colaborativa desaparece. Os resultados dos experimentos apresentados constituem assim evidência que apoia o PRA, que se apresenta como uma explicação teórica e integrada para todos os efeitos observados. Em suma, a nossa pesquisa: a) estendeu os efeitos de parte-da-lista como pista e de inibição colaborativa ao estudo de memória de pessoas, b) proporcionou evidência adicional de suporte à dissociação entre modos de recuperação exaustivo e heurístico, e c) apresenta resultados que apoiam o paralelo teórico entre a inibição por pistas na recuperação e a inibição colaborativa. Adicionalmente, apresenta e testa empiricamente uma nova proposta de explicação destes efeitos. Na nossa perspectiva, estes resultados são importantes para a cognição social porque situações análogas aos paradigmas de parte-da-lista como pista e de recordação colaborativa ocorrem frequentemente no nosso mundo sócio-cognitivo. A recuperação de informação acerca de pessoas e grupos pode frequentemente ser truncada, inibindo tentativas subsequentes de recuperação de informação não recordada. Consequentemente, sugerimos que os paradigmas de inibição na recuperação longe de serem criações laboratoriais, são essenciais ao estudo e compreensão da memória social. Em contextos sociais, só apenas em circunstâncias excepcionais se verifica a correspondência entre contextos de codificação e recuperação ou existe a oportunidade de recapitular as associações formadas na codificação. Os casos de interferência social parecem ser a regra. Assim defendemos que a generalização de resultados obtidos com o estudo de indivíduos isolados sob condições óptimas de recuperação têm que ser complementados com a consideração de fenómenos de interferência na recuperação em contextos sociais e não sociais. Por outro lado, a dissociação sistematicamente obtida salienta a importância de distinguir entre diferentes modos de recuperação da informação a partir da memória (exaustivo e heurístico) e a necessidade de reconhecer os seus efeitos diferencias em várias medidas de memória. Os nossos resultados proporcionam assim uma boa razão para questionar a invariância na recuperação implícita ou explicitamente presente em muitos modelos de memória de pessoas (e.g., Hastie, 1980; Srull, 1981), e contribuem ainda para uma maior apreciação do papel teórico dos processos de recuperação na cognição social. Finalmente, constituem um quadro teórico orientador para explorar novas questões acerca das representações e da recuperação de informação social. Acreditamos que este contraste representa um importante contributo para o desenvolvimento de modelos de recuperação dual na medida em que a utilização quotidiana da memória apenas raramente se processa de forma semelhante à qual os testes standard da memória apelam (e.g., recordação livre) estando muito mais próxima de julgamentos mnésicos (e.g., impressões, julgamentos afectivos, etc.). Em resumo, neste trabalho reconhecemos a importância dos processos de recuperação e da diversidade e sensibilidade contextual que os caracterizam, demonstrámos empiricamente a operação de processos de busca mnésica distintos, e o impacto diferencial das influências contextuais no modo como a informação social é recuperada. Paralelamente, esboçámos e testámos directamente uma proposta teórica integradora e explicativa dos resultados observados. Pensamos por isso, ter contribuído para a acumulação de conhecimento científico para explorar o complexo e fascinante desafio de estudar o modo como as pessoas adquirem, organizam e utilizam a informação social para compreender, explicar e prever a personalidade e o comportamento dos outros.
en
This work distinguishes between exhaustive and heuristic retrieval modes in person memory (Garcia-Marques, Hamilton, & Maddox, 2002). Based on a theoretical parallel between collaborative-retrieval and part-list cueing effects (Basden, Basden, Bryner, & Thomas, 1997), we conducted three impression-formation experiments, using distinct paradigms, to examine how exhaustive and heuristic memory retrieval are differentially affected by part-list cues (Slamecka, 1968) (Experiment 1), collaborative-recall (Weldon & Bellinger, 1997) (Experiment 2) and subset re-exposure (Bäuml & Aslan, 2004) (Experiment 3). The obtained evidence provided new support for this distinction. We discuss different explanations for the effects and suggest a theoretical account for the obtained results – the principle of associative recapitulation. To further test this principle, we manipulated the match between item organization at encoding and at the retrieval, either by manipulating the organization of part-list cues (Experiment 4), by providing, at encoding, to the participants of the same collaborative-recall sessions study items organized in the same or in a different way (Experiment 5) and by manipulating the nature of the encoding conditions (collaborative vs. non-collaborative; Experiments 6 & 7). Results showed that when the organization of the cues provided at test, either by part-list cueing or by fellow collaborative group members, mismatches the organization used at encoding, recall was impaired. However, when encoding and retrieval organization matched, these effects disappeared or were greatly reduced. Results from the last two experiments showed that the collaborative inhibition effect was moderated by the collaborative or non-collaborative nature of impression-formation processes at encoding

Data

08-out-2015

Palavras-chave

Person memory
Collaborative memory
Cognição social -- Social cognition
Retrieval inhibition

Acesso

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