Título
Mulheres na luta armada em Angola: memória, cultura e emancipação
Autor
Paredes, Margarida Isabel Botelho Falcão
Resumo
pt
A história contemporânea de Angola é inseparável das guerras e conflitos que duraram de 1961 a 2002, incluindo as Lutas de Libertação nacional e a Guerra Civil após a independência. Um dos aspetos mais marcantes destas guerras foi a participação das mulheres como combatentes, cujo papel é o tema desta dissertação. Devido à ausência de pesquisas sobre estas mulheres, a tese centra-se no resgate de memórias das ex--combatentes e sobre a sua narrativização no presente a partir de entrevistas focadas na vida militar. A tese aborda também a (re)construção das identidades destas mulheres no contexto dum sistema social de dominação masculina. Como hipótese central do trabalho argumentamos que a participação das mulheres na luta armada reforça a luta pela emancipação feminina e igualdade de género, ao assumirem papéis que lhes estavam interditos anteriormente. Resistência, agência e a representação social das “masculinidades femininas” (Halberstam 1998) permitem às mulheres negociar a ordem de género dominante e assumir identidades marcadas pela ambiguidade de género, reinventando-se, assim, como sujeitos. A tese contribui também para a constituição de um arquivo de memórias no feminino sobre crimes coloniais, resistência anticolonial, Luta de Libertação nacional e Guerra Civil, bem como sobre conflitos internos, como o 27 de Maio de 1977. As dificuldades e frustrações das ex-combatentes, na situação pós-colonial, em relação à falta de reconhecimento dos seus passados, também são abordadas.
en
The history of contemporary Angola is inseparable from the wars and conflicts that lasted from 1961 to 2002, including the national liberation struggle and the post-independence civil war. One of the most striking aspects of those wars was the participation of women as fighters, whose role is the theme of this dissertation. Due to the absence of research on these women, the thesis focuses on retrieving the ex-fighters’ memories and on their narrativization in the present, through interviews focused on military life. The thesis also addresses the women’s (re)construction of identity in a male-dominated social system. The main hypothesis is that women’s participation in the armed struggle strengthened their fight for emancipation and equality by resorting to roles that were previously forbidden to them. Resistance, agency, and the representation of “female masculinities” (Halberstam 1998) allowed women to negotiate the dominant gender order and to perform identities that were marked by gender ambiguity, thus reinventing themselves as subjects. The thesis also contributes to an archive of female memories of colonial crimes, anticolonial resistance, national liberation struggles, and the civil war, as well as of internal conflicts such as the 27th May, 1977 events. Their present difficulties and frustrations in the post-colonial situation, regarding the lack of recognition of their past role, are also addressed.