Título
Fazer música Underground: estetização do quotidiano, circuitos juvenis e ritual
Autor
Gomes, Rui Telmo
Resumo
pt
A estreita relação entre música popular e culturas juvenis é objeto de uma longa
tradição de pesquisa. A prática musical juvenil underground é uma sua demonstração
particularmente enérgica. Para lá de uma certa imagem espetacular e marginal, o underground
é uma esfera social marcada simultaneamente pela densificação relacional e transitoriedade
dos percursos musicais. Procuro neste estudo analisar a construção social do underground,
através da elaboração dos seguintes planos teóricos: (i) socialização musical desde a formação
do gosto em família e entre amigos até à aprendizagem autodidata; (ii) modos de organização
do trabalho de auto-produção musical e formação de circuitos subterrâneos; (iii) dimensão
fenomenológica, temporal e simbólica do processo ritual focado no concerto. Concluo que a
experiência underground é não tanto um rito de passagem mas sobretudo um rito de
procrastinação – um expediente proactivo de adiar simbolicamente a entrada na vida adulta e de preservar a prática criativa como parte central do quotidiano.
en
The close relationship between popular music and youth cultures has a long
research tradition. Underground music making is arguably one of the liveliest demonstrations
of such relationship. Apart from its spectacular and marginal image, the underground is a
social sphere simultaneously defined by dense social relations and transient musical
pathways. My aim is to study underground’s social construction, for which purpose I
elaborate on three main theoretical issues: (i) musical socialization from early acquired taste
among family and friends to later self-taught playing; (ii) self-production methods and do-ityourself
networks configuration; (iii) phenomenological, temporal and symbolic dimensions
of the gig ritual process. Underground experience is to be seen not so much as a rite of
passage, I conclude, but in fact as a procrastination rite – a proactive ploy for symbolically
delaying adulthood and preserving creative practice as a significant everyday feature.