Título
Processamento emocional numa língua nativa e numa segunda língua
Autor
Flávio, Pedro Henrique Fernandes
Resumo
pt
A investigação tem repetidamente demonstrado que existem diferenças na forma como
processamos situações de carga emocional significativa numa língua nativa (L1) e numa
segunda língua (L2). Estas diferenças assentam nos diferentes contextos de aquisição e
utilização das duas línguas: um contexto mais naturalista com maiores oportunidades de
experiência afetiva e sensório-motora (L1), e um contexto mais formal onde tais
oportunidades são mais limitadas (L2). No presente trabalho pretendemos averiguar
experimentalmente esta questão através da análise da produção linguística de eventos
emocionais nas duas línguas. Colocou-se como hipótese que em L1 tais produções seriam
gramaticalmente mais concretas (e.g., maior utilização de verbos) e em L2 mais abstratas
(e.g., menor utilização de verbos). Para tal, foi pedido aos participantes (N=54), que
reportassem eventos de carga emocional significativa quer em L1 (Português Europeu) quer
em L2 (Inglês). Os resultados mostraram em ambas as línguas (L1 e L2), uma maior
prevalência do recurso a nomes, comparativamente a verbos e adjetivos. Especificamente, a
diferença entre nomes e verbos foi significativa em L1, mas tal não se observou em L2,
sugerindo que, ao contrário do esperado, o recurso a categorias gramaticais abstratas foi mais
elevado em L1 do que em L2. As limitações do estudo são discutidas, sugerindo hipóteses
alternativas e futuras direções de investigação.
en
Research has repeatedly shown that there are differences in how people process situations of
significant emotional load in a native language (L1) and in a second language (L2). These
differences are based on the different contexts of acquisition and use of the two languages: a
more naturalistic context with greater opportunities for affective and sensorimotor experience
(L1), and a more formal context where such opportunities are more limited (L2). In the
present work we experimentally investigated this question through the analysis of the
linguistic production of emotional events in both languages. It was hypothesized that such
productions would be grammatically more concrete (e.g., greater use of verbs) in L1 and
more abstract in L2 (e.g., lower use of verbs). For this purpose, participants (N = 54) were
asked to report events of significant emotional load in either L1 (European Portuguese) or
L2 (English). The results showed in both languages (L1 and L2) a greater prevalence of the
use of nouns compared to verbs and adjectives. Crucially, the difference between nouns and
verbs was significant in L1, but this was not observed in L2, suggesting that, contrary to our
predictions, the use of abstract grammatical categories was higher in L1 than in L2. The
limitations of the study are discussed, suggesting alternative hypotheses and future research
directions.