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Os estudantes LGBTI e com rendimentos sociais mais baixos foram as principais vítimas. Mais de um quarto assumiu que fez bullying e indicou a diversão, a vingança e a necessidade de afirmação como motivações para a agressão. As conclusões são de um estudo do Iscte liderado pela investigadora Raquel António.
Mais de 60% dos estudantes foi vítima de bullying online por mais de uma situação durante o confinamento provocado pela pandemia, período em que as aulas decorreram virtualmente. Esta é uma das conclusões do estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia do Covid-19”, realizado por uma equipa de investigação do Centro de Investigação e Intervenção Social do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa.
“Milhões de crianças e jovens ficaram afetadas pelo fecho de escolas durante o confinamento, passando a ter aulas e socializar mais online, deixando-as mais vulneráveis e expostas a serem vítimas de cyberbullying”, afirma Raquel António, investigadora do Iscte e responsável pelo estudo. “A principal contribuição deste estudo foi analisar a frequência de cyberbullying por jovens portugueses durante a pandemia do coronavírus”. Os resultados são referentes ao período entre março a maio deste ano e contaram com a participação de 485 alunos do ensino básico, secundário e superior de todos os distritos do país. Os estudantes LGBTI e com rendimentos familiares mais baixos foram os principais alvos de ataques.
Os danos do 'cyberbullying'
Os efeitos psicológicos que estas situações podem provocar nos alunos agredidos foram um dos pontos abordados pela autora do estudo. “As vítimas de bullying apresentaram maiores níveis médios de consequências psicológicas, afirmando terem-se sentido irritados, tristes e nervosos com mais frequência em relação aos estudantes que não sofreram ataques online”, afirma Raquel António. A contrastar, os agressores indicam a indiferença, a raiva e a alegria como as emoções mais frequentes durante o cyberbullying; apenas 16% admitem sentir culpa. Entre os inquiridos, 41% assumiu ter sido agressor pelo menos por uma vez durante o confinamento “por brincadeira”, “por vingança relativamente a outros episódios que aconteceram” ou “porque quiseram afirmar-se”. “Verificou-se que quanto menor o nível de ensino, maior era o número de alunos que confessou ter sido bully”, indica a investigadora. Do total de alunos inquiridos, quase 9 em cada 10 admitiu ter observado situações de bullying online, mas apenas metade destes fez afirmou ter intervindo para impedir a continuidade da agressão. O apoio à vítima, o aconselhamento à exposição da situação a alguém de confiança ou a tentativa de perceção da gravidade do bullying cometido foram algumas das medidas tomadas por esses colegas.
Com a maioria dos alunos a considerar que existiu um aumento de mensagens e conteúdo prejudicial e violento, Raquel António considera que são necessárias medidas mais eficazes no combate ao cyberbullying. O aumento da visibilidade de temáticas relacionadas com conteúdo violento online nas atividades escolares, a promoção de uma partilha consciente de conteúdos online de forma a prevenir situações de cyberbullying ou a criação de veículos de redução de mensagens e conteúdo violento são algumas das recomendações apresentadas no estudo.
“É necessária uma cultura de promoção de empatia e de denuncia de conteúdo abusivo para prevenir situações de bullying online”, conclui Raquel António
Raquel António é Bolseira de Doutoramento do CIS do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa.