Título
O silêncio que fala: os ritos fúnebres como performance e o cemitério como lugar de memória
Autor
Mergulhão, Bruna Rafaela de Vasconcelos
Resumo
pt
Todo ritual deve ser entendido como uma forma comunicativa de expressão, podendo ser
considerado performático por promover nos participantes um efeito catártico que se apresenta
por meio de gestos, falas, ações, cantos, objetos, trajes, cenário, instrumentos e ornamentos
utilizados para proporcionar realismo e vivacidade à ação pretendida. Portanto, a realização do
rito fúnebre contém a desordem da morte e reinstala a ordem, restabelecendo o equilíbrio
necessário ao grupo por meio da realização de etapas que precedem e seguem a morte, também
implica a comunidade o reconhecimento da morte de outrem bem como consola e ampara os
enlutados. À vista disso, a memória se manifesta em todos os elementos simbólicos materiais
ou imateriais, portanto os cemitérios são entendidos como lugares de memória, pois uma de
suas funções é "lembrar o morto" por meio de representações funerárias, como fotografias,
epitáfios e esculturas, reforçando ainda que este ambiente é um espaço de criação e recriação
de memória coletiva. Levando-se em conta o atual contexto pandêmico, fez-se necessário
observar as mudanças e adaptações relacionadas a aglomerações e a celebrações, o que
influenciou na configuração dos ritos funerários católicos e na vivência do luto. Isto posto, esta
investigação tem como objetivo compreender a relação entre a conservação da memória do
falecido e a performatividade dos ritos fúnebres católicos, de modo a entender como as
representações funerárias estão relacionadas à manutenção da memória individual e coletiva do
morto, tendo como principal local de pesquisa o Cemitério do Alto de São João em Lisboa.
en
Every ritual must be understood as a communicative form of expression, and it may be
considered performative because it promotes in the participants a cathartic effect that is made
present through gestures, speeches, actions, chanting, objects, costumes, scenario, instruments
and ornaments used to provide realism and vivacity to the intended action. Hence, the
celebration of the funeral rite contains the disorder of death and reinstates order, re-establishing
the equilibrium needed by the group through the accomplishment of the stages before and after
death; besides, it involves the community in recognizing the passing away of others as well as
comforting and sheltering the bereaved. Consequently, memory is manifested in all material or
immaterial symbolic elements, therefore cemeteries are understood as places of memory, since
one of their functions is to "remember the dead" through funerary representations such as
photographs, epitaphs and sculptures, further reinforcing that it is a space of creation and
recreation of collective memory. Considering the current pandemic context, it was necessary to
observe the changes and adaptations related to agglomerations and celebrations, which
influenced the configuration of Catholic funerary rites and the experience of mourning. This
research aims to comprehend the relationship between the conservation of the memory of the
deceased and the performativity of Catholic funeral rites, in order to understand how funeral
representations are related to the maintenance of the individual and collective memories of the
deceased, the main location of this study being Alto de São João Cemetery in Lisbon.