Título
Fazer política: uma etnografia da Assembleia da República
Autor
Mineiro, João Nuno Ribeiro
Resumo
pt
Partindo de uma discussão sobre o carácter polissémico do conceito e ideia de política, esta investigação
etnográfica tem por objetivo compreender que entendimento particular da política está subjacente à vida
parlamentar e de que forma este é construído, partilhado e reproduzido. Procurando ir além das
autorepresentações institucionais e da sua mediatização, realizou-se uma etnografia da Assembleia da
República centrada nas interações entre deputados, assessores, funcionários, jornalistas e cidadãos. Sugere se que no Parlamento se constrói uma ideia da política enquanto prática especializada e estruturalmente
articulada com processos de diferenciação e desigualdade social e de poder. Essa ideia é estruturada na
relativa circunscrição social e cultural do corpo de representantes, nos rituais públicos que os distinguem e
nas relações de bastidores que geram inter-reconhecimento e empatia. Salienta-se ainda que a ação dos
deputados depende da posição relacional que ocupam numa rede de hierarquias formais e informais, ao
mesmo tempo que incorpora formas de adaptação permanente que proporcionam reconhecimento
simbólico ao seu estatuto social. Destaca-se o papel dos funcionários na transmissão da memória, e dos
jornalistas na reprodução da política enquanto esfera autónoma da realidade. Conclui-se que no Parlamento
se configura uma ideia de política assente na produção de uma distinção entre quem faz política e quem
dela é objeto; entre quem está dentro e quem está fora; entre atores e espectadores da produção do
fenómeno político. Em suma, a etnografia revela a institucionalização da política enquanto forma de
distinção social, por oposição ao seu entendimento enquanto dimensão potencial das relações humanas.
en
Starting from a discussion on the polysemic character of the concept and the idea of politics, this
ethnographic investigation aims to understand what particular understanding of politics is adjacent to
parliamentary life and how it is constructed, shared and reproduced. Seeking to go beyond the institutional
self-representations and their media coverage, an ethnography of the Assembleia de República was carried
out, centred on interactions between members of parliament, advisers, officials, journalists and citizens. It
is suggested that in the Parliament a concrete idea of politics is constructed: a specialized practice that is
structurally articulated with processes of differentiation of both social and power inequalities. This idea is
structured in the relative social and cultural circumscription the representatives, in the public rituals that
distinguish them and in the behind the scenes relationships that generate inter-recognition and empathy. It
should also be noted that the action of members of parliament depends on the relational position they
occupy in a network of formal and informal hierarchies, while incorporating ways of permanent adaptation
that provide symbolic recognition to their social status. The role of officials in the transmission of memory
and journalists in the reproduction of politics as an autonomous sphere of reality stands out. It is concluded
that in the Parliament an idea of politics is configured based on the production of a distinction between
those who make politics and those who are the object of it; between who is inside and who is outside;
between actors and spectators of the production of the political phenomenon. In short, ethnography reveals
the institutionalization of politics as a form of social distinction, as opposed to its understanding as a
potential dimension of human relations.