Título
O exército como família: Etnografia sobre as vilas militares na fronteira
Autor
Silva, Cristina Rodrigues da
Resumo
pt
Esta tese baseia-se em uma pesquisa etnográfica sobre as dinâmicas familiares em vilas militares situadas na região de fronteira no noroeste amazônico do Brasil. Nosso ponto de partida traduz-se na ideia de que o Exército brasileiro apreende a “família” enquanto categoria nativa que expressa o coletivo da organização (a Família Militar), prescrevendo relações que devem ser calcadas em solidariedade e respeito entre seus membros (afetos e deveres morais que os militares compreendem como condutas “naturais” da família), e que também se estendem às relações entre seus cônjuges e filhos/as com outras famílias de militares, que se percebem como “parentes” nesse universo (a proximidade física dessas pessoas dentro de vilas - espaços militares - e o compartilhamento de relações do cotidiano permitiria uma experiência familiar para além das relações consanguíneas). Por este caminho, observa-se que a família é alvo de um cuidado constante e busca-se pensar o Exército, por um lado, fazendo e desfazendo familiarizações através de um sistema de normas e condutas prescritivas (um modelo ideal) que intervêm nas relações cotidianas das pessoas que fazem parte deste coletivo, e que visam garantir o funcionamento da comunidade militar como uma família ordenada por princípios de hierarquia e disciplina (dimensões estruturantes da instituição). Por outro lado, exploramos, frente a essa aparente uniformidade da vida no quartel, como os familiares (em particular, as esposas de oficiais e sargentos) se pensam nesse sistema e também fazem e desfazem família, dinamizando uma série de relações dentro de um convívio nas vilas militares, se envolvendo em conflitos, fofocas e alianças. Ao longo da tese, portanto, descrevemos como ambos (instituição e sujeitos) flexibilizam a(s) família(s), de forma a produzir outras configurações específicas de um parentesco militar.
en
This thesis is based on an ethnographic research on family dynamics in military villages located in the border region in the northwestern Amazon of Brazil. Our starting point considers the idea that the Brazilian Army seizes the "family" while native category which expresses the collective of the organization (the Military Family), prescribing relations to be modeled on solidarity and respect among its members (affections and moral duties that the military regard as “natural” behaviors of the family), which also extend to relations between their spouses/children and other military families, who perceive themselves as "relatives" in this universe (the physical proximity of these people within the villages - military sites - and the daily relations sharing would allow a family experience beyond consanguineous relationships). Through this, it is observed that the family is the object of constant care and it is sought to think the Army, on the one hand, doing and undoing familiarization through a system of standards and prescriptive behaviors (ideal model) which intervene in everyday relations of people who are part of this collective, and which aim to ensure the functioning of the military community as a family ruled by principles of hierarchy and discipline (structuring dimensions of the institution). On the other hand, the study explores, faced with this apparent uniformity of life in the barracks, how family members (especially the wives of officers and sergeants) think themselves in this system and also make and break family, stimulating a series of relationships within a conviviality in military towns, engaging in conflicts, gossiping and alliances. Throughout the thesis, therefore, we describe how both (institutions and individuals) flexibilize the family(ies), in order to produce other specific configurations of a military kinship.