Título
Precarização do trabalho e ação coletiva: o caso dos call centers
Autor
Teixeira, Catarina Nunes
Resumo
pt
Cada crise capitalista traduz-se em novos desafios ao mundo do trabalho. O capitalismo, não podendo erradicar vantagens intrínsecas à classe trabalhadora, instaura a concorrência com o objetivo de dificultar a construção de uma identidade de classe. As estratégias utilizadas para ultrapassar a crise fordista ditaram o estádio atual do capitalismo. Harvey (2011) denomina-o de “acumulação flexível”, dado o caráter central da flexibilidade. Ao passo que alguns setores de atividade perderam relevância neste novo paradigma, outros expandiram-se. É o caso dos call centers, atividade indispensável à atual estrutura empresarial. Contrariando as teses pós-tayloristas, estes locais de trabalho revelam a continuidade da aplicação dos princípios tayloristas na organização do trabalho, agora aprofundados com o avanço tecnológico e com novas lógicas gestionárias. As alterações sob a acumulação flexível não tiveram apenas um caráter objetivo. Através da esfera ideológica atinge-se a dimensão subjetiva da classe trabalhadora com a apologia do individualismo a incentivar a competitividade entre trabalhadores. Novas e velhas estratégias são implementadas. Novos vocábulos encobrem interesses e confundem papéis. Desta forma, pretende-se compreender, por um lado, qual o papel da socialização - primária e secundária – na construção de uma orientação para a ação coletiva e, por outro, se nos call centers estão presentes fatores que a potenciam e, no caso de estarem, porque é que ela não se efetiva. Metodologicamente recorremos à pesquisa qualitativa através da aplicação de entrevistas semiestruturadas e de um pequeno inquérito por questionário para obter informação referente à caraterização social dos trabalhadores, à sua participação cívica e ao seu trabalho. Concluímos que ao longo do processo de socialização os indivíduos adquirem orientações face à ação coletiva, sendo que as redes sociais estabelecidas revelam enorme influência. Inerente às mesmas é a participação em organizações juvenis ou de trabalho. Quanto à organização do trabalho em call center, tal como aconteceu no início do século passado, apesar de visar a inibição da ação coletiva, ficou claro que ainda que a dificulte não a impede, existindo exemplos de experiências bem sucedidas.
en
Every capitalist crisis translates into new challenges to the labour world. Capitalism not being
able to eradicate intrinsic benefits to the working class, introduces competition with purpose of
hampering the construction of a class identity.
The strategies used to overcome the fordist crisis dictated the current stage of
capitalism. Harvey (2011) calls it flexible accumulation, given the centrality of flexibility.
While some sectors of activity lost relevance in this new paradigm, others have expanded. This
is the case of call centers, an essential activity to the current corporate structure. Contrary to the
post-taylorist theses, these workplaces reveal the continued application of work organization
taylorist principles, now deepened with technological advances and new managerial logics.
Changes under flexible accumulation haven't had just one single objective character.
The subjective dimension of the working class is reached through the ideological sphere with
the glorification of individualism to encourage competitiveness among workers. New and old
strategies are implemented. New words hide interests and confuse roles.
Thus, we intend to understand what is the role of primary and secondary socialization
in benchmark building for collective action and , on the other hand, whether there arefactors that
enhance it at the call centers and , in case there are, why it doesn't take effect.
Methodologically we resorted to qualitative research by applying semi-structured
interviews and a short questionnaire survey to obtain information regarding the social
characterization of workers, their civic participation and their work.
We conclude that during the process of socialization, individuals acquire directions on
collective action, being that established social networks reveal an enormous influence. Inherent
to those is the participation in youth and work organizations. Regarding the organization of
labour in call centers, as it happened at the beginning of the last century, although aimed at
inhibiting collective action, it became clear that although hampering, it isn't impeditive, there
being examples of successful experiences