Título
O Hospital-Colónia de Cumura (Guiné-Bissau): História e realizações (1945-1969)
Autor
Ialá, Domingos Agostinho António
Resumo
pt
Esta dissertação tem como objetivo apresentar o percurso do Hospital de Cumura, na Guiné-Bissau, estabelecimento dedicado ao tratamento da lepra, em particular nas primeiras décadas do seu funcionamento, a partir dos anos 1950. Para tal fazemos uso de uma documentação variada, desde documentação escrita, oral e imagens. A leprosaria de Cumura, ou Hospital- Colónia de Cumura, foi um dos projetos idealizados em 1945, pelo então governador da Guiné Portuguesa, Sarmento Rodrigues, para comemorar os cinco séculos da presença de Portugal na Guiné. A ideia da sua criação visava, sobretudo, o acolhimento e concentração, num dado lugar, dos doentes de lepra existentes um pouco por todo o território e consequentemente o estancamento da sua propagação na Guiné. À época, a Guiné apresentava um número alarmante de doentes com lepra, o que fez dela o território africano ocupado por Portugal com maior número de doente com lepra, em termos proporcionais, pois tratava-se de um muito diminuto território em relação às demais colonias portuguesas em África. A título de exemplo, em 1950, foram diagnosticados pelos Serviços de Saúde da Guiné 579 casos de lepra.
A 22 de Abril de 1952, o ideal tornou-se o real. Foi oficialmente aberta a leprosaria de Cumura, com 261 doentes internos. No princípio era algo bastante modesto, com 18 cabanas ou palhotas, nove por cada lado da estrada e doze doentes por palhota, sem água e luz, com parede de adobo, sem pavimentos e isolado no meio de mato e sem as mínimas condições para o seu funcionamento, ou seja, faltava quase tudo. Foi nessas condições que os primeiros doentes de lepra do Hospital-Colónia foram atendidos.
Com o passar do tempo, as condições habitacionais, higiénicas, alimentares e de tratamento foram melhorando aos poucos graças, sobretudo, aos três primeiros missionários voluntários vindos de Veneza (Itália). Tratava-se de P. Settimio, fr. Giuseppe e fr. Epifanio, que chegaram à Guiné a 5 de maio de 1955. Foi com esses missionários que a leprosaria conheceu os seus melhores momentos, sobretudo em relação à assistência médica e medicamentosa e socio-habitacional, porque vão ser eles os mentores de construção, em concreto, dos dois primeiros pavilhões da leprosaria dignos desse nome, que ficaram prontos em 1970.
Mas antes, em 9 de maio de 1969, a leprosaria que até antes desta data estava sob administração do governo português, foi entregue à Missão Católica de Cumura. Hoje, essa leprosaria é conhecida por Hospital Mal de Hensen e atende não só doentes com lepra, mas também com outras patologias como, por exemplo, tuberculose e HIV/SIDA.
en
The aim of this dissertation is to present the history of the Cumura Hospital in Guinea-Bissau, an establishment dedicated to the treatment of leprosy, particularly in the first decades of its operation, from the 1950s onwards. The Cumura leprosarium, or Cumura Hospital-Colony, was one of the projects conceived in 1945 by the governor of Guinea at the time, Sarmento Rodrigues, to commemorate the five centuries of Portuguese presence in Guinea. The idea behind its creation was, above all, to house and concentrate leprosy patients from all over the country in one place and, consequently, to stop the spread of leprosy in Guinea. At the time, Guinea had an alarming number of leprosy patients, which made it the African territory occupied by Portugal with the highest number of leprosy patients, in proportional terms, as it was a very small territory in relation to the other Portuguese colonies. For example, in 1950, the Guinean Health Services diagnosed 579 cases of leprosy.
On 22 April 1952, the ideal became the real thing. The Cumura leprosarium was officially opened, with 261 in-patients. The beginning was quite modest, with 18 huts or palhotas, nine on each side of the road and twelve patients per palhota, without water or electricity, with adobe walls, no floors and isolated in the middle of the bush and without the minimum conditions for its operation, in other words, almost everything was missing. It was in these conditions that the first leprosy patients at the Hospital-Colonia were cared for.
Over time, housing, hygiene, food and treatment conditions gradually improved, thanks above all to the first three volunteer missionaries who came from Venice (Italy). They were Fr Settimio, Fr Giuseppe and Fr Epifanio, who arrived in Guinea on 5 May 1955. It was with these missionaries that the leprosarium experienced its best moments, especially in terms of medical care, medication and social and housing, because they were the mentors behind the construction of the first two pavilions of the leprosarium worthy of the name, which were completed in 1970.
But first, on 9 May 1969, the leprosarium, which until then had been administered by the Portuguese government, was handed over to the Catholic Mission of Cumura. Today, this leprosarium is known as the Hansen's disease Hospital and treats not only leprosy patients, but also those suffering from other diseases such as tuberculosis and HIV/AIDS.