Título
Manifestações de resistência ao consumo: da crença à prática
Autor
Munhá, Mafalda
Resumo
pt
Atualmente, o consumo assume-se como um fenómeno edificador da sociedade
ocidental. Pautado por uma visão central de abundância, alimenta-se de uma cultura de
excessos onde competem um sem número de imagens publicitárias, slogans, e discursos
estereotipados.
Muitas são as vozes acusatórias que veem o fenómeno como manipulador, destruidor do
intelecto humano e até responsável pelo surgimento de personalidades patológicas. É neste
contexto que surgem as manifestações de “resistência ao consumo”, um largo espectro de
ações e discursos que ganham forma em práticas como o “Consumo Responsável”, a
“Simplicidade Voluntária”, a “Permacultura”, entre muitas outras.
Através da análise das motivações, crenças e desejos dos entrevistados face à temática
da “resistência ao consumo”, pretende-se a compreensão da multiplicidade de manifestações
possíveis. As entrevistas realizadas – seguindo a tipologia semiestruturada em profundidade,
permitiram a flexibilidade na linha de raciocínio do entrevistado, dando espaço a avanços,
recuos, momentos e dúvida e até epifania. Estes momentos de tensão constituíram uma
importante parte do processo de recolha de dados já que possibilitaram a evolução
argumentativa, dando origem a novas linhas de raciocínio sobre o tema. A análise discursiva
revelou que a esfera da resistência ao consumo engloba um conjunto de manifestações de tal
forma vasto, díspar e complexo que a sua sistematização teórica será sempre demasiado
restritiva, servindo um propósito meramente utilitário. A complexidade destas dinâmicas
acresce mais ainda pela sua relação íntima com o projeto identitário do Self, fluído e mutável
por natureza.
en
Nowadays, consumerism is seen as an edifying phenomenon of western society.
Characterized by a central vision of abundance, it is fed by culture of excesses in which
countless advertising images, slogans and stereotyped discourses compete with each other.
Many are the accusatory voices that portray the phenomenon as manipulative, a
destroyer of human intellect or even as the responsible for the emergence of pathological
personalities. This is the set in which the consumer resistance manifestations occur, a broad
spectrum of actions and discourses that take form in practices like “Responsible
Consumption”, “Voluntary Simplicity”, “Permaculture” and many others.
Through the analyses of motivations, beliefs and desires of the interviewees regarding
the thematic of “consumer resistance”, we intend to comprehend the multiplicity of possible
manifestations. The interviews that were conducted - according to a “semi structured in
depth” typology - which allowed flexibility in the interviewee’s line of reasoning, enabling
advances and retreats, moments of doubt and even epiphany. These moments were an
important part of the data collection process, since they motivated an argumentative
evolution, leading to new ideas about the topic. The discursive analysis revealed that the field
of consumer resistance comprises a set of manifestations so vast, different and complex that
its theoretic systematization will always be too restrictive, serving only an utilitarian purpose.
The complexity of these dynamics increases because of its intimate relation with the identity
project of Self, fluid and ever changeable by nature.