Título
Configurações e dinâmicas da obesidade infantil: Um modelo sociológico
Autor
Silva, Sílvia Maria Clemente da
Resumo
pt
A obesidade infantil é uma realidade social marcante nas sociedades contemporâneas.
Articula-se com as relações sociais que promovem a individualização e culpabilização das
crianças e das famílias, a partir das crenças depositadas no modelo biomédico de que a
alimentação e a atividade física constituem os expoentes principais de um paradigma que
assenta na consideração da obesidade como “doença”, nas possibilidades de a “curar” e na
urgência de lutar contra esta nova “epidemia”.
Urge compreender as complexidades sociais inerentes à obesidade e, nomeadamente, à
obesidade infantil, hoje predominantemente representadas como importantes problemas
sociais. Para tal, foi indispensável proceder à construção de um modelo sociológico que
fizesse emergir as configurações e dinâmicas sociais da obesidade infantil envolvidas nas suas
causas e consequências.
Pelo recurso à triangulação metodológica ficou revelada a importância da atualidade
histórica e civilizacional nas interações e papéis sociais, com implicações nos processos de
socialização responsáveis pela formação das disposições, formas de pensar e agir das
crianças. A família afigura-se como instituição central neste fenómeno, não apenas na
reprodução social dos estilos de vida mas, principalmente, pela sua estrutura e dinâmica de
relações sociais.
Na origem da obesidade infantil estão alterações nas relações sociais estáveis sob a forma
de mudanças no quotidiano, transições familiares ou crises biográficas. A autoestima, situação
emocional e psicológica, capacidade de resiliência e diferentes modalidades de integração
social face a estas alterações condicionam o surgimento da obesidade infantil.
A pesquisa realizada permitiu a construção de um modelo sociológico e de um modelo de
intervenção social centrados na obesidade infantil, que se considera poderem ser replicados
noutros contextos territoriais
en
Childhood obesity is a remarkable social reality in contemporary societies. It articulates
with the social relations that promote individualization and culpability of children and
families, from the deposited beliefs in the biomedical model in which nutrition and physical
activity are the main exponents of a paradigm based on the consideration of obesity as
“disease”, in the possibilities of “cure” it, and in the urgency to fight against this new
“epidemic”.
There is an urgent need for understanding the social complexities inherent to obesity,
namely to childhood obesity, which are nowadays predominantly represented as important
social problems. For such, it was essential to proceed to the construction of a sociological
model that did emerge the settings and social dynamics of childhood obesity involved in its
causes and consequences.
By the use of methodological triangulation it was revealed the importance of historical and
civilizational present in interactions and social roles, with implications on socialization
processes responsible for the formation of provisions, and ways children think and act. The
family appears as a central institution in this phenomenon, not only in the social reproduction
of lifestyles, but mainly for its structure and dynamics of social relations.
In the rise of childhood obesity are transformations in stable social relationships in the
form of changes in daily life, family transitions or biographical crisis. Self-esteem, emotional
and psychological situation, resilience ability and different forms of social integration in the
face of these changes affect the emergence of childhood obesity.
This survey allowed the construction of a sociological model and a social intervention
model focused on childhood obesity, which it is believed that may be replicated in other
territorial contexts.