Título
Coreografias da amizade: estilos de vida e segregação entre os jovens do break dance da Maré (Rio de Janeiro)
Autor
Raposo, Otávio Ribeiro
Resumo
pt
Na Maré, bairro do Rio de Janeiro formado por dezasseis favelas, encontra-se
um dos mais fortes núcleos de dançarinos de break dance da cidade. Num meio onde os
confrontos armados entre as fações do tráfico de drogas e a ação truculenta da polícia impõem
constrangimentos à circulação dos moradores, esses dançarinos têm conseguido romper as
dinâmicas de segregação.
Várias vezes por semana, mais de quarenta jovens da Maré reúnem-se para treinar break
dance em diferentes locais do bairro. Sem o controlo de professores, são eles que definem a
lógica dos ensaios (locais de encontro, movimentos a ensaiar e músicas), num ambiente de
intensa sociabilidade. A adesão à dança incentiva os b-boys a transpor as fronteiras da Maré.
Alargam, assim, as suas redes de amizade e acedem aos múltiplos repertórios, saberes e
estilos de vida presentes na cidade.
Os dançarinos da Maré encontraram no break dance (e no hip hop) um modo criativo e
eficaz de cultivar a sua subjetividade, partilhando estéticas, valores e símbolos que contrariam
a atomização da vida urbana. É uma forma prazerosa e coletiva de buscar reconhecimento e
dignidade, que os torna integrantes de uma prestigiante cultura global. Nesse processo, criam
identidades positivas que contestam os estigmas e dispositivos de confinamento que os
querem manter isolados e anónimos nos “territórios de pobreza”. Respeitados no circuito de
hip hop, os b-boys da Maré utilizam a performance e a imaginação para desafiar
simbolicamente as relações de hegemonia, de forma a subverter o seu lugar na hierarquia
social.
en
In Maré, a Rio de Janeiro neighborhood, composed of sixteen favelas (shanty
towns), exists one of the strongest cores of breakdancers in the city. In an atmosphere where
armed conflicts between drug trafficking gangs and the truculent police action impose
constraints on the customary life of the residents, these dancers have managed to break the
dynamics of segregation.
Several times a week, over forty young people from Maré, gather round to practice
breakdancing in different places of the neighborhood. Without the control of teachers, they are
who delineate the purpose of the rehearsals (venues, rehearsing movements and music), in an
environment of intense sociability. The adherence to this dance encourages b-boys to cross the
borders of Maré. Enlarging, this way, their friendship networks and accessing to multiple
repertoires, knowledge and life style existing in the city itself.
The dancers from Maré have found in breakdancing (and in hip hop) a creative and
effective way to cultivate their subjectivity, sharing aesthetic, values and symbols that
contradict the atomization existing in every metropolitan area. It is an enjoyable and
collective way to seek recognition and dignity, becoming members of a prestigious global
culture. In this process, they create positive identities that challenge the stigma and
confinement devices that want to keep them isolated and anonymous in the so called "poverty
areas". Respected in the hip hop circuit, the Maré b-boys make use of performance and
imagination to defy symbolically the hegemony relations in order to subvert their place in the
social hierarchy.