Título
Valores e felicidade no Século XXI: um retrato sociológico dos portugueses em comparação europeia
Autor
Silva, Rui Brites Correia da
Resumo
pt
A “felicidade” e a “infelicidade” dos portugueses são um tema recorrente da
comunicação social. Dois artigos publicados em 2009 pelo Público e pela Visão retratam
o tipo de abordagem que é feito. O primeiro, com o título Portugueses são pobres, estão
desmobilizados mas consideram-se felizes”7 refere que os portugueses são “pobres,
desmobilizados, mas, apesar disso, felizes … os investigadores viram-se perante um país
socialmente muito frágil, pouco capaz de se mobilizar individual e socialmente. Mas,
apesar disso, com altos níveis de satisfação e felicidade”. No segundo, intitulado Afinal
somos felizes8, mostra-se que “os bens materiais não são tudo e que os portugueses
sentem tanta felicidade como os nórdicos ou os sul-americanos”, concluindo que 73,5%
dos portugueses se consideram felizes.
Será mesmo assim? Os portugueses evidenciam mesmo “altos níveis de
satisfação” e “sentem tanta felicidade como os nórdicos ou os sul-americanos”? Quando
se comparam os níveis de felicidade dos nórdicos com os sul-americanos compara-se o
quê?
Avaliar e “quantificar” o bem-estar subjectivo e relacioná-lo com um conjunto de
valores, traçando um retrato sociológico dos portugueses numa comparação europeia,
que se impõe por ser o espaço geográfico, cultural e económico que partilhamos é o
nosso objectivo neste trabalho. O capítulo I procede a uma revisão de literatura dos
valores na teoria social, concluindo pela importância que lhes é atribuída pelos
fundadores da Sociologia, bem como nas propriedades axiológicas que se lhes
reconhece. No capítulo II chamamos a atenção para a importância acrescida dos mass
media na difusão e mudança de valores num mundo globalizado. No Capítulo III
analisamos um conjunto de valores transituacionais e situacionais que se considera
terem impacto no bem-estar subjectivo. No capítulo IV, ao mesmo tempo que
procedemos a uma reflexão sobre o bem-estar subjectivo e suas determinantes,
operacionalizamos a sua “medida” com base na informação recolhida pelo European
Social Survey em 2008, tendo como referência as dimensões sugeridas pela designada
“Comissão Stiglitz”, incumbida por Sarkosy de, por analogia com a medida do Produto
Interno Bruto, sugerir uma forma que permita medir a Felicidade Interna Bruta.
Concluímos com uma análise que relaciona valores com o bem-estar subjectivo,
avaliando o seu impacto neste.
en
"Happiness" and "unhappiness" of the Portuguese are a recurring theme of the media.
Two articles published in 2009 by the Público and the Visão portrays the kind of approach
that is done. The first, entitled The Portuguese are poor, they are demobilized but
consider themselves happy”9 means that the Portuguese are "poor and demobilized, but
nonetheless happy ... the researchers found themselves dealing with a country socially
fragile, little able to mobilize individually and socially. But despite that, with high levels of
satisfaction and happiness." In the second, entitled After all we are happy10, it is shown
that "material goods are not everything and that the Portuguese feel so much happiness
as the Nordics or the South Americans," concluding that 73.5% of the Portuguese
consider themselves happy.
Is that really like that? The Portuguese shows "high levels of satisfaction" and "feel as
much happiness as the Nordics or the South Americans"? When comparing levels of
happiness of the Nordics with the South Americans what is being compared?
To evaluate and to "quantify" the subjective well-being and to relate it with a set of values,
drawing a sociological portrait of the Portuguese in a European comparison, considering
that it is the geographic, cultural and economic value we share, is the aim of this work.
Chapter I conduct a literature review on values in social theory, concluding the importance
attributed to them by the founders of sociology, as well as axiological properties
recognized to them. In Chapter II we draw attention to the increased importance of media
in spreading and changing values in a globalized world. In Chapter III we analyze a set of
trans-situational and situational values deemed to have an impact on subjective wellbeing.
In chapter IV, while we carried out a reflection on the subjective well-being and its
determinants, we operationalize its "measure" based on information gathered by the
European Social Survey in 2008, with reference to the dimensions suggested by the
called "Commission Stiglitz" commissioned by Sarkozy that, by analogy with the measure
of Gross Domestic Product, suggest a way to measure the Gross National Happiness.
Thus we conclude with an analysis that associates values with the subjective well-being,
and assessing their impact on it.