Título
Consumos em rede não autorizados: Pirataria digital em Portugal
Autor
Vieira, Jorge Samuel Pinto
Resumo
pt
Esta investigação sociológica analisou as modalidades de consumo e partilha em rede não
autorizadas de ficheiros digitais que, em grande medida, são classificadas socialmente como
“pirataria”, revelando um conflito latente entre, por um lado, práticas quotidianas dos
utilizadores e, por outro, discursos das instituições.
Centrado nos utilizadores comuns e nos seus consumos para usos privados e sem fins
comerciais, a pirataria digital foi entendida com um pertinente fenómeno de circulação
informal de cultura, reflexo e catalisador de transformações contemporâneas no campo dos
media, quer das modalidades de mediação, acesso e distribuição em rede de recursos culturais
e informacionais, bem como dos papéis e práticas dos consumidores e utilizadores de internet.
A estratégia empírica, ancorada à realidade nacional, mobilizou um método misto
explanatório e sequencial, desdobrado numa primeira abordagem longitudinal (2003-2013),
mais quantitativa e extensiva e um nível de análise macro, recorrendo a uma série de seis
inquéritos presenciais representativos da realidade portuguesa e um inquérito online (2014).
Estes dados foram de seguida articulados, enquadrados e complementados com técnicas de
cariz mais qualitativo no terreno, tais como, a observação etnográfica, quer online, quer
offline, conversas informais e entrevistas a utilizadores de internet jovens e jovens-adultos.
Como principal resultado revelou-se que a chamada pirataria digital em rede constitui um dos
principais formatos de mediação, acesso e distribuição a recursos simbólicos na
contemporaneidade, estando estes consumos informais não autorizados mesclados
sincreticamente e de forma não problemática, mas sim normalizada, no quotidiano, a par com
os consumos autorizados. Desta forma estes acessos formam grande parte da dieta mediática e
cultural dos utilizadores portugueses de internet.
en
This sociological research analysed the various modes of unauthorized online consumption
and sharing of digital files. Those practices are socially classified, by many, as piracy,
revealing a latent conflict between users' practices and institutional discourses.
Focused on common users and private consumption for non-commercial uses, the approach
for the study of this phenomenon was to analyse the informal circulation of culture as, both, a
driver and a reflection of contemporary transformations in the media field, regarding whether
formats of mediation, access and distribution of cultural and informational assets, as well as
roles and practices of consumers and internet users.
The empirical strategy, anchored to national reality, mobilized an explanatory sequential
mixed method, deploying, first a longitudinal approach (2003-2013), using a series of six inperson
surveys representative of the Portuguese reality and allowing a more extensive and
macro level of analysis, combined with an online survey (2014). These findings were
subsequently articulated and complemented with qualitative techniques, such as observation,
whether online or offline, informal conversations and interviews with young and young-adult
internet users.
As main results, it was revealed that the so-called online digital piracy is one of the most
important formats of contemporary processes of mediation, access and distribution of
symbolic resources, and that unauthorized consumptions are merged, in an unproblematic
routine, with authorized accesses and normalized in everyday life. These informal modalities
of access constitute a great part of Portuguese internet users’ media and cultural diets.