Título
Identidade de ânimos, diferença de propósitos: As relações entre Portugal e o Brasil (1974-1985)
Autor
Carvalho, Thiago Severiano Paiva de Almeida
Resumo
pt
De 1974 a 1985 as relações entre Portugal e o Brasil foram caraterizadas pela diferenciação dos objetivos e
das opções estratégicas adotadas por ambas as partes e pelo empenho em dotá-las de uma importância
renovada. A coexistência destas duas dinâmicas evidencia um relacionamento marcado por paradoxos,
exemplificado por uma retórica que atribuía aos vínculos comuns uma relevância que não correspondia aos
fatos. Este discurso, aparentemente desprovido de justificação, permitiu que Lisboa e Brasília mantivessem
a centralidade de uma ligação à qual se reconhecia um potencial que naquele momento não era possível
consubstanciar. A dissociação de interesses entre os dois Estados assumiu visibilidade a partir da década de
1960 e acentuou-se à medida que a questão colonial se encaminhava para o fim. O 25 de Abril, a
descolonização e a transição para democracia, concorreram para que durante o período analisado houvesse
uma tentativa de clarificação dos significados que as relações luso-brasileiras poderiam assumir para os dois
países. Este esforço de revisão dos vínculos bilaterais foi concomitante a um processo interno de reflexão
sobre a identidade nacional e internacional brasileira e portuguesa, fortemente influenciado pelas
repercussões da Guerra Fria nas periferias do sistema e pela realidade pós-colonial. A África lusófona
emergiu como um ator omnipresente na agenda diplomática luso-brasileira, embora assumisse sentidos
distintos para Lisboa e Brasília. O relacionamento gradualmente estabelecido entre Portugal, o Brasil e os
novos Estados lusófonos não só influenciou a evolução do diálogo bilateral, mas o modo como o espaço da
lusofonia viria a estruturar-se nos anos seguintes.
en
From 1974 to 1985, the Luso-Brazilian relationship was characterized by the differentiation of objectives
and strategies adopted by both countries and, at the same time, by their efforts to upgrade the bilateral
dialogue. These political dynamics reveals a relationship marked by a paradox, exemplified by an effusive
rhetoric about the Luso-Brazilian relations mostly as empty of substance. This evasive discourse evoking a
special relation between Lisbon and Brasilia, apparently devoid of content, conferred certain centrality to a
diplomatic relation while it could not be deepened or reshaped. The disconnection between the interests of
both States became perceptible over the 60s and has intensified as the colonial question was approaching
its end. During the time period analysed, the Carnation Revolution, the decolonization process and the
transition to democracy contributed to clarify the significances the Luso-Brazilian relationship could have
for both countries. The effort to reassess bilateral ties happened concomitantly with a debate on the
international and national identity of both countries, which was deeply influenced by the effects of the Cold
War on the global peripheries and by the post-colonial reality. The Lusophone Africa became omnipresent
in the Luso-Brazilian diplomatic agenda, although with different connotations in Lisbon and Brasilia.
Portugal, Brazil and the new Lusophone States have gradually established a relationship that influenced not
only the Luso-Brazilian ties but also how the whole Lusophone space would be framed over the next years.