O presente estudo tem como objetivo contribuir para uma melhor compreensão do pós-parto, através da análise do mesmo enquanto um período de adaptação a uma nova realidade - admitindo o nascimento enquanto fonte de inúmeras mudanças, tanto a nível prático e de reorganização do quotidiano, como a nível identitário e de reorientação prioritária. No sentido de compreender de que forma esse processo de adaptação é realizado, e de identificar os fatores que participam na sua estruturação, focamos a análise nas narrativas de mulheres que estejam a experienciar pela primeira vez a maternidade, uma vez que é nestes casos que as mudanças provocadas pela transição para a maternidade serão mais marcadas. Fazendo uso de uma abordagem qualitativa, e com base na realização de entrevistas em profundidade, analisamos os dados recolhidos mobilizando a proposta teórica de Lahire (2001) acerca da relação entre passado incorporado e presente contextual, aplicando a mesma à realidade social em estudo. A análise realizada revela a complexidade da realidade do pós-parto e a relevância de compreender o mesmo enquanto fase adaptativa, e permite concluir que esta adaptação à nova maternidade não deve ser entendida enquanto um processo linear ou unitário, mas sim enquanto algo dinâmico e multidimensional, apenas compreensível através da análise dos múltiplos elementos que a constituem e das relações estabelecidas entre estes elementos.

The present study’s goal is to contribute to a better understanding of postpartum, through its analysis of it as a period of adaptation to a new reality - recognizing birth as a source of numerous changes, that range from a practical level, with the reorganization of daily life, to the reorientation of identity or priorities. Looking to comprehend that adaptation process, and to identify the main factors that participate in structuring it, we focus our analysis on the narratives of women that are experiencing motherhood for the first time, since it’s among these women that the changes provoked by the transition into motherhood will be more noticeable. Using a qualitative approach, we examine the collected data mobilizing Lahire’s (2001) theoretical proposal of the relationship between incorporated past and contextual present and apply it to the social reality in study. The analysis reveals the complexity of postpartum and the relevance of understanding it as a period of adaptation, allowing us to conclude that this adaptation to motherhood shouldn’t be seen as a linear or unitary process, but rather as something dynamic and multidimensional, only comprehensible through the analysis of the multiple elements that constitute it, and the relationships established between those elements.