Título
Cidadania, direitos humanos e minorias sexuais na África lusófona
Autor
Garrido, Rui André Lima Gonçalves da Silva
Resumo
pt
A colonização europeia em África deixou legados ainda presentes, como a legislação
penal que criminaliza as relações sexuais consentidas entre adultos do mesmo sexo.
Para além destas leis, a homofobia política tem fomentado uma retórica valorativa da
família e de valores considerados tradicionais e endógenos, com restrições ao exercício
de cidadania e da liberdade por parte de homossexuais. Os Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa (PALOP) não só são considerados mais tolerantes, como até
despenalizaram e protegem a orientação sexual. A presente tese debruça-se, assim,
sobre os posicionamentos jurídico-políticos nos PALOP, com destaque para Angola e
Moçambique, em matéria de regulação da orientação sexual, de forma a explicar este
posicionamento distinto.
Esta tese compara as reformas penais nos PALOP, em matéria de regulação da
orientação sexual, contrastando-as com os vários dispositivos penais africanos e com
os principais instrumentos de direitos humanos. Os artigos que compõem a tese partem
de uma análise global do universalismo dos direitos humanos e da contestação da
homossexualidade em África, abarcando os movimentos de ativismo e as suas
estratégias de resistência face à hostilidade política. As conclusões desta tese
contribuem para o debate sobre cidadania e direitos de minorias sexuais em África de
duas formas. Em primeiro lugar, demostra que o contexto jurídico-político nos PALOP é
mais favorável a minorias sexuais, visível nas reformas penais que despenalizaram as
relações sexuais consentidas entre adultos do mesmo sexo. Em segundo lugar, revela
um esforço dos PALOP na aproximação aos compromissos internacionais no sentido
de criar sociedades mais inclusivas.
en
The European colonisation of Africa left still present legacies, such as legislation
criminalising consensual sexual relations between same-sex adults. In addition to these
laws, political homophobia has fostered rhetoric defending the family and values
considered traditional and endogenous, which harm the exercise of citizenship and
freedom by sexual minorities. African Portuguese-speaking Countries (PALOP) are not
only felt more tolerant but have even decriminalised and protected citizens based on
their sexual orientation. The present thesis focuses on the juridical-political positions in
the PALOP, with an emphasis on Angola and Mozambique, discussing regulation of
sexual orientation to explain this distinct positioning.
This thesis compares the penal reforms in the PALOP, in what regards the regulation of
sexual orientation, contrasting them with the various African criminal provisions and with
the main instruments of human rights. The articles depart from a global analysis of the
human rights’ universalism and the contestation of homosexuality in Africa, explaining
afterwards activists’ movements and their strategies of resistance in the face of political
hostility. The conclusions of this thesis contribute to the debate on citizenship and rights
of sexual minorities in Africa in two ways. First, it demonstrates how the legal-political
context in the PALOP is more favourable, reflected in the penal reforms that
decriminalised consensual sexual relations between same-sex adults. Second, it shows
the effort endured by the PALOP to reach their international commitments to create more
inclusive societies.