Esta dissertação apresenta uma análise empírica aos dois efeitos contraditórios da financeirização no consumo privado em Portugal, entre 1988 e 2022. De acordo com a literatura pós-keynesiana, existem dois efeitos contraditórios da financeirização que exercem influência sobre o consumo privado, nomeadamente: (i) um negativo relacionado com a diminuição do rendimento do trabalho das famílias; e (ii) um positivo referente ao aumento do endividamento das famílias e ao incremento da riqueza financeira e habitacional das famílias. Para tal, foi estimada uma equação pós-Keynesiana do consumo privado total através da inclusão de quatro variáveis relacionadas com os dois efeitos contraditórios da financeirização (rendimento do trabalho, riqueza financeira, riqueza habitacional e endividamento das famílias) e cinco variáveis de controlo adicionais (consumo privado desfasado, taxa de desemprego, taxa de inflação, taxa de juro de curto prazo e taxa de juro de longo prazo). Os resultados obtidos, considerando as variáveis explicativas da financeirização (rendimento do trabalho, riqueza financeira, riqueza habitacional e endividamento das famílias), indicam que o efeito positivo do endividamento das famílias não foi suficiente para compensar o efeito negativo da riqueza (financeira e habitacional) sobre o consumo privado, concluindo-se que o efeito global dos dois efeitos contraditórios identificados na era da financeirização tem sido prejudicial para o consumo privado em Portugal, no período compreendido entre 1988 e 2022.

This dissertation presents an empirical analysis of the two contradictory effects of financialisation on private consumption in Portugal between 1988 and 2022. According to the post-Keynesian literature, there are two contradictory effects of financialisation that influence private consumption, namely: (i) a negative one related to the decrease in household labor income; and (ii) a positive one related to the increase in household indebtedness and the increase in household financial and housing wealth. To this end, a post-Keynesian equation for total private consumption was estimated by including four variables related to the two contradictory effects of financialisation (labour income, financial wealth, housing wealth and household debt) and five additional control variables (lagged private consumption, unemployment rate, inflation rate, short-term interest rate and long-term interest rate). The results obtained, considering the explanatory variables of financialisation (labor income, financial wealth, housing wealth, and household debt), indicate that the positive effect of household debt was not sufficient to offset the negative impact of wealth (financial and housing) on private consumption. It is concluded that the overall effect of these two contradictory forces identified in the era of financialisation has been detrimental to private consumption in Portugal during the period from 1988 to 2022.