Título
Estar sem-abrigo, capital social e exclusão: um estudo etnográfico na cidade de Lisboa
Autor
Gomes, Ana Sofia Teixeira
Resumo
pt
Partiu-se para esta dissertação com o objetivo de analisar o capital social das pessoas em situação de
sem-abrigo por forma a perceber de que modo a sua reconstrução e mobilização interfere na exclusão
social das mesmas.
Os resultados do trabalho etnográfico, efetuado na cidade de Lisboa, revelaram que as relações
de sociabilidade, são essencialmente estabelecidas na rua, marcadas por uma fraca vinculação e por
escolhas derivadas essencialmente de circunstâncias momentâneas. Permitiram ainda compreender
que o capital social destes agentes, enquanto recurso agenciável, se destina sobretudo à sobrevivência
da vida na rua e deriva desta. Assim sendo, foi importante relacionar o nível de engajamento com a
situação de sem-abrigo e o capital social dos agentes que se encontram nesta situação, como forma
de entender a exclusão de que são alvo. Viver na rua é estruturar progressivamente um novo estilo de
vida, que tem como referência o espaço público.
A rua é alvo de apropriação, transformação e personalização, torna-se espaço da vida quotidiana,
torna-se local de habitação e trabalho, sendo que os sujeitos que se encontram em situação de semabrigo se vão desvinculando, gradualmente, das suas redes de suporte existentes antes dessa situação
de vida e aderem, progressivamente, aos códigos que imperam na rua. A sua identidade permite-lhes
ocupar um lugar simbólico na urbe, revelador de indivíduos que se alheiam e desvinculam da
sociedade, do sistema capitalista e consumista, materializado num grau de pobreza e exclusão
extrema.
en
This dissertation was launched with the aim of analysing the social capital of homeless people in order
to understand how its reconstruction and mobilization interfere with their social exclusion.
The results of the ethnographic work, carried out in the city of Lisbon, revealed that social relations
are essentially established on the street, they’re marked by a weak connection and by choices derived
essentially from momentary circumstances. They also made it possible to understand that the social
capital of these agents, seen as a mobilizable resource, is mainly intended for the survival of life on the
street(s) and derives from it. Therefore, it was important to relate the level of engagement with the
situation of homelessness and the social capital of the agents who are in this situation, as a way of
understanding their exclusion.
Living on the street(s) is to progressively structure a new lifestyle, which has the public space as
reference. The street is appropriated, transformed and personalized, it becomes a space of daily life,
it becomes a place of habitation and work, and the subjects who are in a situation of homelessness
gradually disconnect from their preexisting support networks and progressively adhere to the codes
that prevail on the street. Their identity allows them to occupy a symbolic place in the city, revealing
individuals who are alienated and detached from society, the capitalist and consumerist system,
materialized in a degree of poverty and extreme exclusion.