Título
Do desenho sentimental à “Platea Urbs”
Autor
Roman, Stefani Mihaela
Resumo
pt
O conceito de paisagem enquanto gerador de projeto tem conduzido a uma ambivalência
contextual, entre o seu carácter mais visual e o sistema de relações que a
constituem. Analisou-se o território como ponto de partida para o projeto, numa tentativa de
solucionar as rupturas urbanas e por oposição criar continuidade. A investigação surge na
sequência do estudo do Complexo Desportivo do Vale do Jamor, área com características
muito peculiares em relação à sua paisagem e topografia.
Uma paisagem caracterizada um cenário povoado por reminiscências de paisagens
de outrora, que o plano do Estádio Nacional absorveu. Assume-se a paisagem como uma
construção cultural, um palimpseto, resultante de uma concepção temporal na qual os diversos
elementos estão interligados no espaço e no tempo. O (re)-olhar para as pré-existências,
como fragmentos de uma realidade de outrora, é reavivar os seus valores, as suas memórias
e a sua função urbana na articulação entre o complexo, a envolvente e a cidade, como um
todo. Entende-se a paisagem do Jamor como um meio que estabelece um profícuo diálogo
entre passado e presente, enquanto nos aponta os caminhos para o futuro. A paisagem é o
produto complexo resultante das diversas metamorfoses, e não apenas de uma imagem. Desta
forma a área de intervenção acopla dois conceitos-chaves: paisagem e território. Ambos
são complementares, na medida em que, a concepção da paisagem resulta da construção do
território. Entende-se o território como um sistema, formado por elementos inter-relacionados
que o configuram, como um conjunto de componentes interdependentes que constituem
um todo, ao invés de uma mera soma de partes. Põe-se em evidência uma visão unitária do
território, através do estudo da implantação de uma constelação de mirantes que pretende
valorizar pontos de vista privilegiados sobre a paisagem. Pretende-se assim, uma continuidade
com a cidade, uma topografia sentimental, ou seja, um sistema que interligado com a
memória crie uma paisagem do tempo.
Os Miradouros são construções que possibilitam um conjunto de pontos de vista
(mirantes) sobre o território. Construções que funcionam como um momento suspenso no
tempo, onde se revelam os vários estratos temporais do território. Imagens de um tempo
ambíguo e elemento de leitura territorial evocado por um dispositivo que enaltece o carácter
multi sensorial da sua percepção, promovendo o cruzamento do cenário observado com a
própria experiência física do observador, onde os fragmentos visuais, sonoros, olfativos e
tácteis se fundem num todo. A proposta de projeto procura uma re-interpretação e re-invenção
da paisagem tal como se tratasse de uma geografia afectiva. Do desenho sentimental
à “Platea Urbs” advém do observar e interpretar a arqueologia da paisagem do Vale, de forma
a enaltecer o seu carácter multi-sensorial.
en
The concept of landscape as a project generator has led to a contextual ambivalence,
between the visual character and the system of relations that constitute it. The
territory was analysed as a starting point for the project, in an attempt to resolve urban
ruptures and by opposition to create continuity. The research emerges from the analysis
of Jamor Valley Sports Complex, an area of very peculiar characteristics in relation to
its landscape and topography.
The landscape is characterised by a balance between past and present. A scenery
populated by reminiscences of former landscapes, which the National Stadium plan has
absorbed. Considering the concept of Landscape as a cultural concept, a palimpsest,
resulting from a temporal construction in which the various elements are interconnected
in space and time. By (re)-looking at pre-existences, as fragments of a former reality, is
to revive values, memories and urban function in the articulation between the complex,
the surroundings and the city as a whole. Jamor’s landscape is understood as a mean of
establishing a fruitful dialogue between past and present, while pointing to the future.
The landscape is the complex result attainded from various metamorphoses and not just
an image. In this way the area of intervention combines two key concepts: landscape and
territory. Both are complementary, because landscape results through the construction
of the territory. The territory is understood as a system, made up of interrelated elements
that configure it, a set of interdependent elements that constitute the whole, rather than
a mere sum of parts. A unitary vision of the territory is attained through the study and
implementation of a constellation of viewpoints that aim to enhance privileged views of
the landscape. The proposal is intended to provide continuity with the city by developing
a sentimental topography, a system that interconnected with memory creates a landscape
of time.
The Viewpoints as constructions allows a set of points of view over the territory.
Constructions that function as a moment suspended in time, where the various time
layers of the territory are revealed. Images of an ambiguous time and an element for
territorial reading evoked by a device that enhances the multi-sensorial character of its
perception, which promotes the crossing between the observed scenario and the observer’s
own physical experience, where the visual, sound, olfactory and tactile fragments
merge into a whole. The project proposal seeks a re-interpretation and re-invention of
Jamor landscape as if it were an affective geography. From sentimental drawing to “Platea
Urbs” comes from observing and interpreting the archaeology of the valley’s landscape
in order to enhance its multi-sensorial character.