Título
Sociedades agrárias africanas em cenários de catástrofe natural e a agricultura pós-catástrofe com um estudo de caso: Moçambique: Búzi
Autor
Bernardo, Sara Matos Coelho
Resumo
pt
Um evento natural culmina numa catástrofe natural apenas se houver sociedades expostas a esse evento, e se essa exposição for acompanhada por vulnerabilidades pré-existentes e por incapacidade de resposta.
Os eventos naturais não são fenómenos isolados, uma catástrofe antecede e procede outra catástrofe e/ou outras crises. A vulnerabilidade das populações é cumulativa evento após evento, e a capacidade de resposta e adaptação ficam cada vez mais fragilizadas.
À luz desta lógica propõe-se uma perspetiva que privilegia o "pré" e o "pós"-catástrofe como um único processo continuado, atribuindo-se a tónica à continuidade e acumulação de eventos.
Neste sentido, uma agricultura "pós"-catástrofe é também uma agricultura "pré"-catástrofe e viceversa.
As sociedades agrárias Africanas, pela escassez de recursos financeiros e tecnológicos, são das que mais sofrem mediante eventos naturais. As práticas agrícolas são continuamente fragilizadas e descapacitadas.
Este estudo questiona a clássica destrinça entre a fase pré e pós catástrofe, propondo uma reflexão sobre os modelos de intervenção vigentes, e sobre como é necessário redirecionar a abordagem para a lógica de que são precisos recursos para se reduzir os níveis de vulnerabilidade.
Transferências de dinheiro e especificadamente o "basic income" são discutidos como estratégias de "Redução de Risco de Catástrofe". Considerando o pré e pós como um processo continuado, o "basic income", por ser um fluxo de dinheiro estável na sua frequência e montante, possibilita abordar as catástrofes e as crises não como eventos pontuais e circunscritos, mas antes como processos não lineares e que não comportam uma lógica de início e fim.
en
A natural event turns into a natural disaster only if there are societies exposed to that event, and if that exposure is accompanied by pre-existing vulnerabilities and an inability to cope.
Natural events are not isolated occurrences; a disaster precedes and proceeds another disaster and/or other crises. The vulnerability of populations is cumulative event after event, and the capacity to cope and adapt is increasingly weakened.
Accordingly, is proposed that "pre"- and "post"-disaster are a single continuous process, emphasising the continuity and accumulation of events. In this sense, "post"-disaster agriculture is also "pre"-disaster agriculture and vice versa.
Due to the lack of financial and technological resources, African agrarian societies are the most affected by natural events. Agricultural practices are continuously weakened and disempowered.
This study questions the classic distinction between the "pre"- and "pos"-disaster stage, proposing a reflection on current intervention models, and on how it is indispensable to redirect the approach towards the logic that access to resources is necessary to reduce vulnerability levels.
Cash transfers and specifically basic income are discussed as Disaster Risk Reduction strategies. Considering "pre"- and "post"-disaster as a continuous process, basic income, being a stable flow of money in its frequency and amount, makes it possible to approach disasters and crises not as one-off and circumscribed events, but rather as non-linear processes that do not have a beginning and end logic.