O Antropoceno sinaliza uma nova época geológica caraterizada pelas transformações induzidas pela ação humana no sistema terrestre. A sociedade moderna capitalista, assente na perspetiva cartesiana que estabelece uma dicotomia entre seres humanos e natureza, potencia um modelo de desenvolvimento que subordina a segunda à primeira e que resultou numa crise como nunca antes vista. A agricultura industrial, através da lógica de maximizar o lucro, levou à exploração descomedida dos recursos e ao uso indiscriminado de agroquímicos, exacerbando esta crise. Isto impede uma compreensão mais profunda e holística do ser humano e do seu lugar no mundo e, portanto, o presente estudo foca-se na necessidade de adotar uma abordagem alternativa de "habitar o mundo", que enfatize a interdependência entre os seres humanos e o meio ambiente e práticas de produção de alimentos alternativas à agricultura convencional. Neste sentido exploro, a partir de vários autores, o conceito da Agroecologia, que assegura a viabilidade dos ecossistemas e de seres humanos e não humanos. Uma vez que há cada vez mais pessoas a habitar áreas urbanas, este estudo centra-se em dois espaços de cultivo em Lisboa - a Horta Alto da Eira e a Horta do Village Underground Lisboa - e visa compreender o possível contributo das hortas em contextos urbanos para avaliar a reflexão das pessoas envolvidas com a agricultura sobre a transição para uma forma alternativa de “habitar o mundo”, que esteja assente na reciprocidade e cooperação com o mundo natural em que nos inserimos e do qual dependemos.

The Anthropocene points a new geological era characterized by transformations induced by human action on Earth. Modern capitalist society, based on a Cartesian perspective that establishes a dichotomy between human beings and nature, enhances a development model that subordinates the latter to the former, resulting in an unprecedented crisis. Industrial agriculture, through the idea of maximizing profit, has led to the overexploitation of resources and the indiscriminate use of agrochemicals, exacerbating this crisis. This prevents a deeper and more holistic understanding of human beings and their place in the world and, therefore, the present study focuses on the need to adopt an alternative approach to "being in the world", that emphasizes the interdependence between human beings and the environment and alternative food production practices to conventional agriculture. In this sense, I explore, from various authors, the concept of Agroecology, which ensures the viability of ecosystems and human and non-human beings. Since there are more and more people inhabiting urban areas, this study focuses on two cultivation spaces in Lisbon - Horta Alto da Eira and Horta do Village Underground Lisboa - and it aims to understand the possible contribution of urban gardens to assess the perspective of people involved in agriculture about the transition to an alternative way of “being in the world”, based on reciprocity and cooperation with the natural world in which we live and on which we depend.