Título
Modus operandi dos abusadores sexuais: características identificadas nas crianças abusadas
Autor
Marques, Cristina Isabel Silveira
Resumo
pt
O abuso sexual de crianças tornou-se, a partir dos anos 70/80 do Século XX, uma preocupação
social mundial. Dada a elevada prevalência desta problemática, demonstra-se necessário
desenvolver programas de prevenção primária, tendo esta investigação o objetivo de contribuir com
conhecimento empírico que permita desenhar esses programas. Neste sentido, procura-se
compreender o ajustamento do modus operandi implementado pelo perpetrador às características
das crianças abusadas.
Para tal, realizaram-se entrevistas com 31 reclusos, condenados por crimes contra a
autodeterminação sexual, que assumiam a sua autoria. As entrevistas foram submetidas a um
processo de codificação baseado nos princípios da metodologia da Grounded Theory e esse
processo foi validado por um segundo codificador.
Os resultados obtidos permitem identificar fatores de risco associados às vítimas e perceções
distorcidas dos perpetradores acerca dos comportamentos destas, que influenciam o ajustamento de
estratégias de sedução pelos abusadores, visando iniciar e manter o abuso, prevenindo,
concomitantemente, que meio envolvente e vítimas denunciem o crime. A maioria dos crimes é
revelada pela vítima.
Sugerem, também, estratégias de prevenção primária: dever de denúncia do abuso sexual; educação
das crianças (em contexto familiar e escolar) no sentido de dizerem não ao potencial abuso e
afastarem-se de pessoas que lhe transmitam sentimentos de ansiedade/aflição; promoção da
comunicação funcional entre família e crianças.
Conclui-se que os programas de prevenção primária deverão potenciar a capacidade das vítimas
para se afastarem da situação abusiva e promover as suas competências comunicacionais, de
assertividade e resolução de problemas, bem como fornecer instrumentos às comunidades para detetarem o abuso.
en
Child sexual abuse has become, since 1970/1980, a social concern worldwide. Given the high
prevalence of this problem, it is necessary to develop sexual abuse primary prevention programs,
being the objective of this research to contribute to empirical knowledge that allows designing these
programs. Therefore, this research seeks to understand the adjustment of the modus operandi
implemented by perpetrators to the characteristics of the abused children.
To this end, interviews were conducted with 31 prisoners convicted of crimes against sexual selfdetermination,
which admitted their crime. The interviews were subjected to a coding process based
on the principles of Grounded Theory methodology and this process has been validated by a second
encoder.
The results obtained allow us to identify risk factors associated to victims, as well as distorted
perceptions of perpetrators about their behaviors, that influence the adjustment of seduction strategies
by abusers, aiming to initiate and maintain the abuse, preventing, concomitantly, the victims or
environment around them to report the crime. Victims reveal most of the crimes.
Suggest also strategies for primary prevention: duty to report sexual abuse; education of the children
(in the familial and school context) to say no to a potential abuse and move away from persons that
transmit them feelings of anxiety/distress; promoting funcional communication between family and
children.
It is concluded that primary prevention programs should enhance the ability of victims to move away
from the abusive situation and promote their communication, assertiveness and problem resolution
skills and provide communities with tools to detect sexual abuse.