Título
Malária em Moçambique: Perspectivas leigas numa região endémica
Autor
Rodrigues, Carla Alexandra Ferreira
Resumo
pt
A malária é a mais importante doença parasítica tropical, constituindo uma
ameaça para cerca de 40% da população mundial, sobretudo nos países mais pobres
onde o acesso aos cuidados de saúde e os recursos para o tratamento são mais escassos.
Em África, constitui um dos maiores problemas de saúde pública, afectando
principalmente crianças com menos de cinco anos e mulheres grávidas.
De forma a compreender o fenómeno da malária, este estudo tem como
objectivo analisar as perspectivas leigas, incluindo percepções, conhecimentos e
práticas relacionadas com a malária, em termos de prevenção e gestão de recursos
terapêuticos, numa região onde esta doença é endémica. Nesse sentido, foram realizadas
18 entrevistas semi-directivas a mães de crianças com cinco ou menos anos de idade na
cidade de Chókwè (Província de Gaza, Moçambique).
Este estudo mostra como os indivíduos transportam para a gestão da saúde e da
doença uma combinação de recursos cognitivos de carácter pluralista, que se conjugam
com factores socioculturais, políticos e económicos. A tendência para aceitar as
explicações biomédicas, acumulando-as e combinando-as com outros entendimentos,
demonstra o carácter reflexivo das construções cognitivas dos indivíduos. Isto remete
para a necessidade do aprofundamento do conhecimento sociológico sobre as lógicas e
racionalidades leigas que estabelecem os critérios para a adopção de determinadas
práticas preventivas e terapêuticas. Conclui-se que o reconhecimento da coexistência de
diversas formas de conhecimento permite estudar as questões da saúde e da doença de
uma forma mais abrangente e holística, contribuindo para um melhor entendimento dos
seus padrões nas sociedades contemporâneas.
en
Malaria is the major tropical parasitic disease, constituting a threat to about 40%
of the world population, mainly in poorer countries where access to healthcare and
treatment resources are scarce. In Africa, it is a major public health problem, affecting
mainly children under five and pregnant women.
Aiming to understand the malaria phenomenon, this study examines lay
perspectives, including perceptions, knowledge and practices related to malaria
regarding prevention and therapeutic resource management, in a region where this
disease is endemic. Thus, 18 semi-structured interviews with mothers of children with
five or less years of age were conducted in the city of Chokwe (Gaza Province,
Mozambique).
This study demonstrates how in health and disease management, individuals
articulate a combination of pluralistic cognitive resources that connect with sociocultural,
political and economic factors. The tendency to accept biomedical
explanations, accumulating and combining them with other understandings,
demonstrates the reflexive nature of the individuals’ cognitive constructions. This
manifests the need for further sociological research related to the logic and rationality
that determine the criteria on the adoption of certain preventive and therapeutic
practices. In sum, the recognition of the coexistence of differente forms of knowledge
makes it possible to study health and illness issues in a more comprehensive and holistic
way, aiming to contribute towards a better understanding of their patterns in
contemporary societies.