Título
Patrulha e proximidade: uma etnografia da polícia de Lisboa
Autor
Durão, Susana
Resumo
pt
Esta etnografia pretende colmatar a falta de conhecimento sobre os universos policiais e sobre o policiamento nas ciências sociais portuguesas. Insere-se no quadro reflexivo da antropologia das organizações, dos processos culturais e urbanos e na tradição dos estudos policiais. Recorrendo a técnicas de observação prolongada e métodos qualitativos (entrevistas e pesquisa documental) é proposta uma descida às ruas de uma esquadra em Lisboa. São percorridos itinerários, rotinas e tácticas de agentes da patrulha e da proximidade que mostram como no seio da organização policial as ruas se tornaram o ‘seu’ território. Enquanto isso, a organização da Polícia de Segurança Pública, responsável pelo policiamento urbano em Portugal, é perspectivada nos eixos de uma reconfiguração recente, ‘organizando-se’, volvidos 30 anos de democracia. Embora muito indefinido e amplo, conclui-se que o trabalho dos agentes e das esquadras passa sobretudo pela ‘manutenção de ordens’, isto é, pelo encontro de soluções provisórias para problemas humanos e sociais perenes nas cidades. Práticas de trabalho e práticas discursivas da acção vão definindo e classificando os sentidos da operacionalidade, da cultura e mandato policiais, mas também da diferenciação social e uso de poderes perante situações, públicos e figuras do quotidiano. Numa ‘esquadra de passagem’, nos primeiros anos de experiência, os jovens agentes são socializados para aí se tornarem polícias e conquistarem a difícil mas essencial autonomia da autoridade profissional. Contemplam oportunidades, experimentam estilos de polícia e configuram trajectórias. A experiência da deslocação, esperar pela transferência ou ‘fazer carreira’ dita diferentes tendências num modo e quadro de vida exigentes.
en
It is this ethnography’s purpose to fill in the lack of Portuguese social sciences’ knowledge on police spheres and policing. It fits itself in the reflexive frame set of the anthropology of organizations, cultural and urban processes, while keeping the police studies tradition. Making use of lengthened observation techniques as well as qualitative methods (interviews and documental research) it offers a journey into the streets of a Lisbon’s police precinct. The patrol and community officer’s itineraries, routines and tactics are exposed and studied proving how within the organization the street has become the officers’ territory. In the meantime the Polícia de Segurança Pública organization (the authority in urban policework in Portugal) is put in perspective at the eyes of a recent configuration, ‘organizing itself’, now that 30 years of democracy rule are due. While remaining quite undefined and really wide in its scope, one can conclude that the officers and precinct’s work is essentially the ‘maintenance of orders’, i. e., the constant finding of temporary solutions for the perennial human and social problems that dwell in the cities. Work practices and action discoursive practices keep on defining and classifying the operationally, culture and police mandates’ directions, as well as the social differentiation and power enforcement when facing daily situations, audiences and persons. In the first years on the job, when posted in a ‘passing precinct’, the young officers are socialized in order to become policemen and henceforth conquer the hard but essential professional authority autonomy. They gaze opportunities, experience different policing styles and set up trajectories. The displacement experience, the transfer waiting and the “career making” process all call for different answers regarding this demanding role and lifestyle.