Título
Passagens por Macau: memórias e trajectórias de jovens portugueses no Oriente
Autor
Pessoa, Inês Ramires Ferro da Costa
Resumo
pt
A presença de jovens migrantes portugueses em Macau nas décadas de 80 e 90 do
século XX, na sua maioria filhos de profissionais qualificados que ali ocuparam cargos
intermédios ou de topo no aparelho administrativo e/ou em instituições privadas, integra
um dos múltiplos exemplos que formam a complexa e multifacetada teia de mobilidade
geográfica. Exemplo singular, em virtude da ambiguidade do estatuto político-jurídico
de Macau - território chinês então administrado por portugueses - e das especificidades
socioculturais da sociedade de acolhimento; mas também pautado por características
transversais a outros contextos migratórios. Desde logo, o desafio enfrentado pelos
jovens de lidar com a ruptura ou enfraquecimento de alguns dos seus laços primários,
em conjunto com a adaptação a um novo meio físico, social e cultural, tendo de gerir as
“desparametrizações” e “reparametrizações” implicadas no movimento.
Privilegiando uma abordagem analítica de carácter qualitativo, assente em relatos de
vida de jovens com idades compreendidas entre os 17 e os 32 anos, complementados
com documentação biográfica e estatística relevante, procurou-se, neste estudo, dar
conta de dinâmicas identitárias juvenis em trânsito construídas. Para tal, procedeu-se à
caracterização do itinerário migratório em termos do perfil sociodemográfico dos
intervenientes, dos móbeis estruturais, contextuais e individuais impulsionadores da
partida, do enquadramento e suporte institucional obtido, a par da duração da estadia.
Variáveis analisadas em estreita relação quer com as modalidades de integração dos
jovens no meio hospedeiro - tendencialmente assimilativas ou etnicizadas; quer com as
repercussões da estadia em Macau em matéria de condições e estilos de vida;
sociabilidades e capital social; intercâmbios culturais e incorporação de referências
‘asiáticas’, reestruturação de sentimentos de pertença e do sentido de lugar.
en
The presence of Portuguese young migrants in Macau, in the 80s and 90s of the
twentieth century, whose parents, mostly qualified professionals, occupied middle or
top positions in the administrative sector and/or in private institutions of the territory,
represents one out of the large number of examples that constitute the complex and
multifaceted web of geographical mobility. A singular example in its character, because
of the ambiguity of the legal-political status of Macao - at that time, a Chinese territory
administrated by the Portuguese - along with its socio-cultural specificities; but
simultaneously displaying some characteristics also observed in other migratory
contexts. For instance, the young migrants’ challenge of coping with the breaking or
weakening of some of their primary commitments, and also the need to adapt to a new
physical, social and cultural environment, having to manage the process of social deentailment
and re-entailment associated with the movement.
Basing our study in a qualitative analytical approach supported by life stories of young
people aged from 17 to 32, complemented with relevant statistical and biographical
documentation, we have focused on the young people’s identity transformation within
the context of geographical mobility. For that purpose, this migratory flow was
characterized taking into account the migrants’ profile, the structural, contextual and
individual factors of their departure, the institutional framework and support provided,
together with the length of their stay. These variables were, subsequently, analyzed in
close relation to the young people’s patterns of integration in the host society -
assimilative or communitarian in tendency -, plus the repercussions of the stay in Macau
in their life paths, concerning life conditions and lifestyles; friendship and social capital;
intercultural exchanges and assimilation of Asian references, feelings of belonging and
sense of place.