Título
A política e os media: o enviesamento da imprensa portuguesa em 2009 e 2015
Autor
Graça, Francisco Varandas Soares
Resumo
pt
Com o objetivo de avaliar a existência de enviesamentos partidários na cobertura política dos jornais
portugueses em termos de tom, volume e enfoque temático, e que eventuais fatores contextuais
influenciam esse enviesamento, foi realizada uma análise de conteúdo de quatro jornais, PÚBLICO,
Expresso, Jornal de Notícias (JN) e Correio da Manhã (CM), durante os anos eleitorais de 2009 e 2015.
Os resultados apontam para que os partidos mainstream sejam favorecidos a nível de volume de
cobertura, mas prejudicados em termos de tonalidade de artigos. Encontraram-se diferentes padrões de
enviesamento, notando-se, em termos de tom, uma ligeira preferência do CM e Expresso por partidos
de direita e uma menor antipatia do JN por partidos mais à esquerda, enquanto no PÚBLICO a dicotomia
relevante é mainstream/franja (com os últimos a serem alvo de cobertura menos negativa). Verificou-se
a importância do enfoque nas acções de campanha na cobertura jornalística, em detrimento de temas
substantivos, principalmente no caso dos partidos mais pequenos. Em termos dos fatores contextuais,
constatou-se uma tendência jornalística pelo partido incumbente que se apresentasse às eleições;
observaram-se ainda diferentes tendências em períodos distintos do calendário eleitoral, sobressaindo
comportamentos opostos ao nível da evolução de neutralidade consoante se tratem de partidos catch-all
ou de franjas, além de se ter reconhecido um aumento da politização de 2009 para 2015, com a
percentagem de peças neutras a diminuir para todos os partidos. Em suma, comprovou-se a existência
de algumas inclinações partidárias na imprensa portuguesa, apesar de esta estar longe dos enviesamentos
presentes noutros países com sistemas de media desenvolvidos.
en
In order to evaluate the existence of party bias in the political coverage of the Portuguese press in terms
of tone, volume and thematic focus, and what possible contextual factors have an impact on this bias, a
content analysis of four newspapers, PÚBLICO, Expresso, Jornal de Notícias (JN) and Correio da
Manhã (CM), during the electoral years of 2009 and 2015 was carried out. The results point out that the
mainstream parties are favoured in terms of volume of coverage, but impaired in terms of the tone of
articles. Different bias patterns where found, with CM and Expresso showing a slight preference for
right-wing parties and JN being less critical of left-wing parties, while in PÚBLICO the relevant
dichotomy was mainstream/fringe parties (with the latter having less negative coverage). The
importance of press coverage focusing on “campaign actions” was verified, to the detriment of
substantive issues, especially in the case of smaller parties. In terms of contextual factors, there was a
tendency for news slant favouring the incumbent party; different trends were observed in different
periods of the electoral calendar, with neutral news coverage increasing or decreasing whether parties
were classified as catch-all or marginal. An increase in politicization from 2009 to 2015 was also
observed, with the percentage of neutral stories decreasing for all parties. In sum, some partisan
preferences in the Portuguese press were proved, although theses biases are far from the ones present in
other countries with developed media systems.