A nível mundial, as relações hegemônicas contemporâneas relativas à política, economia, história e cultura entre Norte e Sul Global remontam sua origem ao período de implementação do sistema colonial, intrinsecamente ligado à modernidade e ao capitalismo. Dentre os diversos mecanismos de reforço destas dinâmicas, a ação humanitária não é exceção. Através da prestação de apoio nos mais diversos componentes como saúde, educação, alimentação, entre outros, são replicadas dinâmicas de poder que consolidam os lugares de quem ajuda e quem é ajudado no sistema neoliberal. Esta pesquisa antropológica pretende investigar as relações de poder hegemónico especificamente, em Moçambique, tendo como objeto as relações laborais numa Organização Não Governamental Internacional - Médicos Sem Fronteiras – que atua na área da saúde. Nesta organização distinguem-se duas categorias de trabalhadores, os internacionais e os nacionais/locais. Estas duas categorias distinguem-se não exclusivamente na nacionalidade, mas também nas posições hierárquicas e tarefas desempenhadas por estes trabalhadores. De modo a analisar esta questão, serão utilizados três pilares teóricos interconectados: humanitarismo, os estudos decoloniais e as relações laborais. O levantamento etnográfico tem como uma de suas metodologias a observação participante que se estenderá desde o período em que eu trabalhei na organização em questão, até o trabalho de campo realizado durante um mês, para além das entrevistas semiestruturadas com trabalhadores nacionais e internacionais da organização, para a recolha de testemunhos.

At a global level, contemporary hegemonic relations relating to politics, economics, history and culture between the Global North and South date back to the period of implementation of the colonial system, intrinsically linked to modernity and capitalism. Among the various mechanisms for reinforcing these dynamics, humanitarian action is no exception. Through the provision of support in the most diverse components such as health, education, food, among others, power dynamics are replicated that consolidate the places of those who help and those who are helped in the neoliberal system. This anthropological research aims to investigate hegemonic power relations specifically in Mozambique, having as its object labour relations in an International Non Governmental Organization Médecins Sans Frontières which operates in the health sector . In this organization two categories of workers are distinguished, international and national/local. These two categories differ not exclusively in terms of nationality, but also in the hierarchical positions and tasks performed by these workers. In order to analyse this issue, three interconnected theoretical pillars will be used: humanitarianism, decolonial studies and labour relations. The ethnographic survey has as one of its methodologies participant observation, which will extend from the period in which I worked in the organization in question, to the fieldwork carried out for a month, in addition to semi structured interviews with national and international workers of the organization, for collecting testimonies.