Título
As expressões do preconceito étnico racial e seus desdobramentos no trabalho do/a assistente social no Brasil e Portugal
Autor
Santos, Ana Caroline Trindade dos
Resumo
pt
Esta investigação teve o objetivo de sistematizar as expressões do preconceito étnico-racial e seus desdobramentos no trabalho do/a assistente social no Brasil e Portugal em perspectiva comparada. Apresentamos elementos que configuram a profissão de Serviço Social com ênfase no exercício profissional desenvolvido nas políticas sociais que formam os sistemas de proteção social em ambos os países.
A pesquisa é de natureza qualitativa, com o método de abordagem dialético e pressupostos ontológicos do paradigma crítico, que definiu as discussões conceituais em torno da questão étnico-racial, do racismo estrutural e institucional. Os procedimentos metodológicos foram a pesquisa documental, pesquisa bibliográfica, revisão bibliográfica integrativa e análise de conteúdo aos documentos oficiais sobre o tema. Realizamos entrevistas individuais com assistentes sociais portugueses e brasileiros/as, por amostragem não probabilística, e alcançamos o objetivo de analisar a intervenção profissional diante da procura dos/as utentes e usuários aos serviços da política de acção/assistência social.
Os principais resultados explicitam que mesmo com o avanço nos parâmetros legais internacionais de coibição do racismo, as instituições de trabalho dos/as assistentes sociais mantêm a cultura tecnocrática de reproduzir a ideologia de harmonização dos conflitos étnico-raciais nas sociedades brasileira e portuguesa. O que produz a prática de subnotificação das demandas racializadas apresentadas pelas/os usuárias/os aos profissionais brasileiros, estes têm dificuldades no preenchimento do campo de identificação étnico-racial nas suas fichas de trabalho, corroborando para a naturalização da subalternidade da condição racial de ser negro. Em relação aos profissionais portugueses existe a necessidade de estes reconhecerem que a discussão sobre a nacionalidade é uma expressão da questão étnico-racial em Portugal com impactos diretos na sua intervenção cotidiana de trabalho para garantir acesso aos serviços da acção social.
Concluímos que a percepção dos/as assistentes sociais brasileiros/as e portugueses/as sobre o debate da questão étnico-racial está a sair, timidamente, do patamar de invisível, inexistente o que evidencia a necessidade de uma aproximação com as intervenções profissionais antirracistas no âmbito acadêmico, na esfera político-organizativa e na dimensão técnico-operativa do Serviço Social em contexto internacional.
en
This research aimed to systematize the expressions of ethnic-racial prejudice and its consequences in the work of social workers in Brazil and Portugal, from a comparative perspective. We present elements that configure the role of Social Work focusing on the professional exercise developed in the social policies that form the social protection systems in both countries.
The study is qualitative, with the dialectical approach method and ontological assumptions of the critical paradigm, which defined the conceptual discussions around the ethnic-racial issue, structural, and institutional racism. We performed documental and bibliographic research, integrative bibliographic review, and content analysis of official documents related to the subject. We carried out individual interviews with Portuguese and Brazilian social workers, using non-probabilistic sampling, and we achieved the objective of analyzing the professional intervention before the demand of users of the social action/assistance policy services.
The main results show that, even with the advancement of international legal parameters to curb racism, the social workers' work institutions maintain the technocratic culture of reproducing the ideology of harmonizing ethnic-racial conflicts in Brazilian and Portuguese societies. This behavior produces the underreporting of the racialized demands presented by users to Brazilian professionals. They have difficulties filling in the ethnic-racial identification field in their worksheets, corroborating the naturalization of the subalternity of the racial condition of being black. Regarding Portuguese professionals, they need to recognize that the discussion about nationality is an expression of the ethnic-racial issue in Portugal with direct impacts on their daily work intervention to guarantee access to social action services.
We conclude that the perception of Brazilian and Portuguese social workers in the debate on the ethnic-racial issue is timidly leaving the invisible, non-existent level. That highlights the need for an approximation with anti-racist professional interventions in the academic scope, in the political-organizational sphere, and the technical-operative dimension of Social Work in an international context.